Tanques, varais e tábuas de passar são alguns elementos presentes nas lavanderias comunitárias de Fortaleza e que compõem um universo essencial para as famílias de inúmeras mulheres. Apesar da modernidade, a lavagem manual de roupa é a fonte de renda das lavadeiras. Elas encontram nas lavanderias públicas uma oportunidade de trabalho digno e um lugar para compartilhar experiências, realizações e desafios.
O trabalho das lavadeiras, muitas vezes, vai além de um ofício e se torna uma tradição que se estende por gerações. A lavadeira Meirilene Pereira, que trabalha há mais de 10 anos na Lavanderia Comunitária Maria Lucimar Coelho, no bairro Vila União, herdou o trabalho da avó e da mãe.
“O trabalho começou com a minha avó, depois passou para a minha mãe e, hoje, eu e minhas três irmãs trabalhamos aqui como lavadeiras, com muito orgulho. Eu comecei a trabalhar como lavadeira em 2013, depois que deixei meu antigo emprego como zeladora. Aqui é mais vantajoso e a renda é muito melhor”, ressalta.
O ambiente, plenamente feminino, é também um local familiar e de apoio mútuo, como destaca Meirilene. “Aqui trabalham as minhas irmãs Meiriane, Rejane e Daniele, minha tia Carmen e minha prima Simone. Aqui é o local de trabalho da família Pereira. É lavando roupa que conseguimos o nosso sustento, pagar nossas contas e ter momentos de lazer”, revela.
O expediente de Meirilene começa pela manhã e se estende até o final da tarde. Atualmente, ela possui uma clientela fixa e, devido à alta demanda, não consegue atender novos clientes.
“Minha rotina começa às 9 horas da manhã e eu só paro às 17 horas. Lavo, depois boto a roupa para secar e depois tem que engomar, tudo manual. Meus clientes costumam deixar as peças aqui na semana e eu devolvo aos sábados, todas lavadas e passadas. Tenho cerca de 20 clientes e ainda sou procurada por mais gente, mas não tenho condições de atender”
A lavadeira reconhece os desafios da profissão, mas ressalta ter orgulho do trabalho digno que realiza. “É um serviço pesado, porque é todo manual, mas eu sou muito grata por ter a possibilidade de fazer isso tudo. Ser lavadeira é uma dádiva e eu sou uma mulher muito satisfeita com o meu trabalho. Tenho prazer em entregar as roupas lavadas, passadas e dobradas para os meus clientes”, pontua.
Quatro décadas de dedicação
Com uma história que se entrelaça com a história das lavanderias comunitárias da cidade, a lavadeira Carmen Maria Pereira, de 63 anos e tia de Meirelene, começou a lavar roupa aos 12 anos de idade, seguindo os passos de sua mãe, e testemunhou a melhoria das condições de trabalho. “Eu comecei a lavar roupa muito cedo, ainda criança. Lavava na beira da lagoa e hoje posso trabalhar nessa lavanderia, com boa estrutura para todas nós”.
Foi graças ao trabalho de lavadeira que Carmen conseguiu conquistar o sustento para criação dos quatro filhos e, hoje, dos dois netos. O trabalho começa cedo e ela se desloca a pé de casa pro trabalho, mas, segundo ela, sempre com alegria para mais um dia de trabalho.
“Sou lavadeira há mais de 40 anos e sou muito feliz com a minha profissão. É daqui que criei meus filhos e netos e continuo trabalhando por eles. Não é um trabalho fácil, mas tenho orgulho. Saio de casa antes das sete horas da manhã e venho a pé para a lavanderia e fico aqui até o final da tarde, depois que termino as peças do dia”, frisa.
Não apenas uma fonte de renda, as lavanderias comunitárias também são lugares de convivência e auxílio mútuo. Carmem divide as instalações do local com mais 19 lavadeiras e, segundo ela, a relação vai além do trabalho.
“Eu passo mais tempo na lavanderia do que na minha própria casa. Por isso, eu digo que eu tenho duas casas. Uma eu passo o dia trabalhando, e na outra eu volto para dormir. O trabalho é pesado, é uma luta diária, mas que me dá muita satisfação. Sou uma mulher satisfeita com todas as oportunidades”, realça.
Lavanderias Comunitárias
As lavanderias comunitárias não são apenas locais de limpeza de roupas, mas também de encontros sociais e apoio feminino. Fortaleza conta com sete lavanderias comunitárias em diferentes bairros e que oferecem oportunidades de trabalho digno para o público feminino.
"As lavadeiras formam um grupo forte de mulheres guerreiras que há gerações tira o sustento de casa da lavagem de roupa para fora. Além da garra, outra característica marcante dessas mulheres é a união. Parte delas é da mesma família, e todas caminham juntas na busca por um futuro melhor”, destaca a titular da Secretaria Executiva Regional (SER) 4, Natália Rios.
Os equipamentos públicos carregam consigo a tradição das lavadeiras, que costuma passar de geração em geração, proporcionando fonte de renda e contribuindo para o sustento das famílias. Mais de 40 lavadeiras trabalham nos equipamentos municipais.
Lavanderia comunitária Francisca Francelino Saldanha
Endereço: Rua Livreiro Arlindo com Travessa David Pascoal - Farias Brito
Funcionamento: egunda a sexta-feira
Horário: 7h às 17h
Lavanderia Padre Graça
Endereço: Rua Padre Graça com Rua Azevedo Bolão - Parque Araxá
Funcionamento: segunda a sexta-feira
Horário: 8h às 17h
Lavanderia Aluísio Ximenes
Endereço: Rua Dom Lino, 1001 - Amadeu Furtado
Funcionamento: segunda a sexta-feira
Horário: 8h às 17h
Lavanderia Comunitária Expedita Ramalho Freire
Endereço: Rua Teófilo Gurgel (ao lado da Escola Municipal Lenira Jurema de Magalhães) - Monte Castelo
Funcionamento: segunda a sexta-feira
Horário: 8h às 17h
Lavanderia Comunitária Lourdes Ary
Endereço: Rua Pernambuco, 595 - Pici
Funcionamento: segunda a sexta-feira
Horário: 8h às 17h
Lavanderia Comunitária Maria Lucimar Coelho
Endereço: Rua Helvécio Monte, 165 - Vila União
Funcionamento: segunda-feira a sábado
Horário: 7h às 17h (segunda a sexta-feira) e 7h às 12h (sábado)
Lavanderia Comunitária
Av. Soriano Albuquerque, 125 - Joaquim Távora
Funcionamento: segunda-feira a sábado
Horário: 8h30 às 18h (segunda a sexta-feira) e 9h às 18h30 (sábado)
