17 de April de 2024 em Fortaleza

Medalha Iracema: Fausto Nilo, o desenhista de cidades e canções

Compositor, cantor, poeta, arquiteto e urbanista, o artista é célebre nome na música brasileira e presença marcante na paisagem fortalezense


Fausto Nilo posa para a foto
"Fortaleza foi a cidade que me acolheu, com 11 anos. Eu estou com 80 e vivi mais de 50 anos em Fortaleza, então eu me sinto fortalezense também", pontua Fausto Nilo (Foto: Tainá Cavalcante)

Quando Fausto Nilo Costa Júnior chegou em Fortaleza para estudar, vindo de Quixeramobim, a cidade tinha em torno de 200 mil habitantes. Passados 69 anos, aproximadamente 600 canções e a criação de diversos projetos que lhe tornaram uma presença marcante na arquitetura da cidade, ele se considera também fortalezense. Fausto Nilo é um dos quatro homenageados com a Medalha Iracema em 2024. A comenda será entregue na próxima quinta-feira (18/04), no Teatro São José, como parte das celebrações dos 298 de Fortaleza, completados em 13 de abril.

Fausto deixou a cidade natal em 1955, aos 11 anos de idade, e, na Capital, entrou para o Liceu do Ceará. Era o tempo de jogar bola de meia nas calçadas do bairro José Bonifácio e brincar em festas de São João nas pracinhas. Depois veio a descoberta do cinema de arte a um quarteirão de casa e, em seguida, o ingresso na primeira turma da recém criada Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Depois eu passei a viver no Campus do Benfica. Eu morei ali quatro anos. Eu fiquei tão apaixonado pela vida na escola de arquitetura, por tudo que ela tinha ali, e eu arranjei cantinhos para dormir. Os porteiros já me conheciam", conta o artista, relembrando que chegou inclusive a dormir na biblioteca da Faculdade, tudo para não se afastar do Benfica.

Nos percursos da boemia, Fausto se estendia para além do bairro, frequentando locais como o Bar do Anísio, na Beira-Mar. Famoso ponto de encontro de jovens artistas na época, o bar é considerado berço de muitos sucessos do Pessoal do Ceará, turma que contava com nomes como Ednardo, Fagner, Belchior, Augusto Pontes, Rodger Rogério e o próprio Fausto Nilo. O grupo despontaria no cenário cultural brasileiro ainda na década de 1970. No Bar do Anísio, os amigos ouviam as canções uns dos outros e criavam juntos. Simultaneamente, formava-se o arquiteto e o músico.

A primeira composição de Fausto Nilo gravada em disco foi interpretada pelo conterrâneo Fagner: "A canção Fim do Mundo", parceria dos dois, que entrou para o compacto "Cavalo Ferro", de 1972. Era apenas o início de uma extensa produção.

Concluída a faculdade, o artista passou breve período como professor da própria UFC, desenvolveu também os primeiros projetos arquitetônicos em Fortaleza e, em seguida, foi dar aula na Universidade de Brasília. Da Capital Federal, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou desenhando a estação de metrô Santa Cecília. Tornou a Fortaleza, mas a música o atraiu ao Rio de Janeiro, onde passou 14 anos. Entre uma canção e outra, trilhava por bibliotecas e livrarias o percurso do urbanista autodidata. Somando os tempos nas três capitais, foram 18 anos morando fora do Ceará.

Do Rio de Janeiro, voltou a Fortaleza desperto e disposto para viver os desafios do urbanismo. Para ele, mais complexo que a arquitetura no sentido de não poder nem querer escusar diálogos com todos os envolvidos, sobretudo as comunidades que recebem os projetos que cria. Foram e ainda são muitos, em escalas diversas, como a reforma e adaptação da Ponte dos Ingleses, o Mercado São Sebastião, a Nova Praça do Ferreira e o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, muitos deles em parceria com Delberg Ponce de Leon.

"Fortaleza foi a cidade que me acolheu, com 11 anos. Eu estou com 80. Tirando esses 14 do Rio, dois de Brasília e dois de São Paulo, que somam 18 anos, dos 80, eu vivi mais de 50 anos em Fortaleza, então eu me sinto fortalezense também", pontua Fausto Nilo, feito quem percorre um extenso mapa no tempo e no espaço.

A trajetória longeva e prolífica no urbanismo segue compassada com a criação musical. "Eu sou habituado a acordar com desafios e gosto disso. Às vezes. é do urbanismo e da arquitetura e, às vezes, o cansaço de uma me leva a fazer a outra, que é a música", candencia ele. Ainda hoje, os traços dos projetos são desenhados a mão, em consonância com a produção digital.

Quando a arquitetura e o urbanismo foram intervalo, compôs mais de 600 músicas, pelas quais é considerado um dos maiores letristas da MPB. Entre os célebres parceiros do compositor, estão Fagner, Zé Ramalho, Moraes Moreira, Armandinho, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lulu Santos. E suas canções soam nas vozes de artistas como Gal Costa, Geraldo Azevedo, Caetano Veloso, Simone e Elba Ramalho.

Entre os maiores sucessos compostos pelo artista estão, "Bloco do Prazer" e "Chão da Praça" (parceria com Moraes Moreira), "Pedras que Cantam" (com Dominguinhos), "Dezembros" (com Fagner e Zeca Baleiro), "Dona da Minha Cabeça" (com Geraldo Azevedo), "Eu Também Quero Beijar" (com Pepeu Gomes) e "Zanzibar" (com Armandinho). Muitas delas se tornaram trilhas sonoras dos carnavais de diversas regiões do Brasil. Fausto Nilo também tem três álbuns gravados como cantor.

Para além das centenas de canções e projetos e dos 80 anos de existência no mundo, as grandezas estão no passar das horas. Para se fazer compreender, Fausto recorre ao diretor e roteirista de cinema italiano Federico Fellini. "Ele dizia que você não consegue escrever um roteiro de filme, um romance, um poema, e, eu diria, nem consegue fazer uma obra de arquitetura que o povo identifique bem, se você não olha a vida todo dia", cita. Os eventos reais da vida são as bases de inquietação e aquelas coisas formadoras de novas possibilidades, porque ninguém inventa igual a vida. "No outro dia, quando eu acordo, eu começo de novo, vou em frente e tenho feito isso até agora", prossegue Fausto Nilo.

Medalha Iracema: Fausto Nilo, o desenhista de cidades e canções

Compositor, cantor, poeta, arquiteto e urbanista, o artista é célebre nome na música brasileira e presença marcante na paisagem fortalezense

Fausto Nilo posa para a foto
"Fortaleza foi a cidade que me acolheu, com 11 anos. Eu estou com 80 e vivi mais de 50 anos em Fortaleza, então eu me sinto fortalezense também", pontua Fausto Nilo (Foto: Tainá Cavalcante)

Quando Fausto Nilo Costa Júnior chegou em Fortaleza para estudar, vindo de Quixeramobim, a cidade tinha em torno de 200 mil habitantes. Passados 69 anos, aproximadamente 600 canções e a criação de diversos projetos que lhe tornaram uma presença marcante na arquitetura da cidade, ele se considera também fortalezense. Fausto Nilo é um dos quatro homenageados com a Medalha Iracema em 2024. A comenda será entregue na próxima quinta-feira (18/04), no Teatro São José, como parte das celebrações dos 298 de Fortaleza, completados em 13 de abril.

Fausto deixou a cidade natal em 1955, aos 11 anos de idade, e, na Capital, entrou para o Liceu do Ceará. Era o tempo de jogar bola de meia nas calçadas do bairro José Bonifácio e brincar em festas de São João nas pracinhas. Depois veio a descoberta do cinema de arte a um quarteirão de casa e, em seguida, o ingresso na primeira turma da recém criada Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Depois eu passei a viver no Campus do Benfica. Eu morei ali quatro anos. Eu fiquei tão apaixonado pela vida na escola de arquitetura, por tudo que ela tinha ali, e eu arranjei cantinhos para dormir. Os porteiros já me conheciam", conta o artista, relembrando que chegou inclusive a dormir na biblioteca da Faculdade, tudo para não se afastar do Benfica.

Nos percursos da boemia, Fausto se estendia para além do bairro, frequentando locais como o Bar do Anísio, na Beira-Mar. Famoso ponto de encontro de jovens artistas na época, o bar é considerado berço de muitos sucessos do Pessoal do Ceará, turma que contava com nomes como Ednardo, Fagner, Belchior, Augusto Pontes, Rodger Rogério e o próprio Fausto Nilo. O grupo despontaria no cenário cultural brasileiro ainda na década de 1970. No Bar do Anísio, os amigos ouviam as canções uns dos outros e criavam juntos. Simultaneamente, formava-se o arquiteto e o músico.

A primeira composição de Fausto Nilo gravada em disco foi interpretada pelo conterrâneo Fagner: "A canção Fim do Mundo", parceria dos dois, que entrou para o compacto "Cavalo Ferro", de 1972. Era apenas o início de uma extensa produção.

Concluída a faculdade, o artista passou breve período como professor da própria UFC, desenvolveu também os primeiros projetos arquitetônicos em Fortaleza e, em seguida, foi dar aula na Universidade de Brasília. Da Capital Federal, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou desenhando a estação de metrô Santa Cecília. Tornou a Fortaleza, mas a música o atraiu ao Rio de Janeiro, onde passou 14 anos. Entre uma canção e outra, trilhava por bibliotecas e livrarias o percurso do urbanista autodidata. Somando os tempos nas três capitais, foram 18 anos morando fora do Ceará.

Do Rio de Janeiro, voltou a Fortaleza desperto e disposto para viver os desafios do urbanismo. Para ele, mais complexo que a arquitetura no sentido de não poder nem querer escusar diálogos com todos os envolvidos, sobretudo as comunidades que recebem os projetos que cria. Foram e ainda são muitos, em escalas diversas, como a reforma e adaptação da Ponte dos Ingleses, o Mercado São Sebastião, a Nova Praça do Ferreira e o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, muitos deles em parceria com Delberg Ponce de Leon.

"Fortaleza foi a cidade que me acolheu, com 11 anos. Eu estou com 80. Tirando esses 14 do Rio, dois de Brasília e dois de São Paulo, que somam 18 anos, dos 80, eu vivi mais de 50 anos em Fortaleza, então eu me sinto fortalezense também", pontua Fausto Nilo, feito quem percorre um extenso mapa no tempo e no espaço.

A trajetória longeva e prolífica no urbanismo segue compassada com a criação musical. "Eu sou habituado a acordar com desafios e gosto disso. Às vezes. é do urbanismo e da arquitetura e, às vezes, o cansaço de uma me leva a fazer a outra, que é a música", candencia ele. Ainda hoje, os traços dos projetos são desenhados a mão, em consonância com a produção digital.

Quando a arquitetura e o urbanismo foram intervalo, compôs mais de 600 músicas, pelas quais é considerado um dos maiores letristas da MPB. Entre os célebres parceiros do compositor, estão Fagner, Zé Ramalho, Moraes Moreira, Armandinho, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lulu Santos. E suas canções soam nas vozes de artistas como Gal Costa, Geraldo Azevedo, Caetano Veloso, Simone e Elba Ramalho.

Entre os maiores sucessos compostos pelo artista estão, "Bloco do Prazer" e "Chão da Praça" (parceria com Moraes Moreira), "Pedras que Cantam" (com Dominguinhos), "Dezembros" (com Fagner e Zeca Baleiro), "Dona da Minha Cabeça" (com Geraldo Azevedo), "Eu Também Quero Beijar" (com Pepeu Gomes) e "Zanzibar" (com Armandinho). Muitas delas se tornaram trilhas sonoras dos carnavais de diversas regiões do Brasil. Fausto Nilo também tem três álbuns gravados como cantor.

Para além das centenas de canções e projetos e dos 80 anos de existência no mundo, as grandezas estão no passar das horas. Para se fazer compreender, Fausto recorre ao diretor e roteirista de cinema italiano Federico Fellini. "Ele dizia que você não consegue escrever um roteiro de filme, um romance, um poema, e, eu diria, nem consegue fazer uma obra de arquitetura que o povo identifique bem, se você não olha a vida todo dia", cita. Os eventos reais da vida são as bases de inquietação e aquelas coisas formadoras de novas possibilidades, porque ninguém inventa igual a vida. "No outro dia, quando eu acordo, eu começo de novo, vou em frente e tenho feito isso até agora", prossegue Fausto Nilo.