Nos ecopontos da cidade e nas associações de catadores, basta um simples olhar para notar que as mulheres são maioria entre os trabalhadores que, dia após dia, coletam e fazem a triagem dos materiais recicláveis em Fortaleza. Raquel Nascimento, 34 anos e mãe de duas filhas, é uma delas e trabalha como catadora de recicláveis há 14 anos. “Aqui no Re-ciclo, a gente tem duas equipes, uma trabalhando aqui no Ecoponto e outra trabalhando no galpão da Rede de Catadores, e a maioria lá também é mulher. Então a gente tenta, ao máximo, ser bem familiar porque aqui são todas mães de famílias, têm suas casas, têm seus filhos, ou são senhoras de idade. A gente tenta fazer programação do dia das mulheres, dia das mães, dia das crianças”, conta.
A vida como catadora de recicláveis começou para Raquel quando ela fez 18 anos. “O meu trabalho iniciou com minha mãe, que era catadora, e em 2010 eu comecei a frequentar o galpão de triagem e estou até hoje”, afirma ela que também faz parte da Associação de Catadores do Moura Brasil e é uma das catadoras credenciados do projeto Re-ciclo, da Prefeitura de Fortaleza.
De acordo com dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), dos 800 mil catadores que atuam com reciclagem no país, 70% são mulheres. Na Associação Agentes Ambientais Rosa Virgínia, a presidente Musamara Mendes diz que, das 11 mulheres integrantes da associação, todas são chefes de família. “Foi através da reciclagem e da catação que as mulheres conseguiram uma oportunidade de ter uma renda, de ter um trabalho para sustentar suas famílias”, afirma.
Dignidade
Em 2022, a Prefeitura de Fortaleza lançou o Re-ciclo, projeto gratuito de coleta seletiva que conta com um sistema inovador de coleta porta a porta, com catadores credenciados e remunerados, e uso de triciclos elétricos.
Segundo Raquel Nascimento, com o início do projeto, a vida dos catadores foi diretamente impactada com dignidade, visibilidade e melhores condições de trabalho. Ela relata que, antes do Re-ciclo, realizava coleta apenas duas vezes na semana, com uma média de três coletas agendadas por dia. Atualmente, com o projeto, Raquel possui, cerca de 20 coletas por dia, de segunda a sexta. “A gente trabalhava pra ter uma alimentação, conseguir comprar alguma roupa, pagar aluguel, água, luz. E hoje em dia a gente tem um dinheiro mais vago. Para minha filha menor eu pago o reforço e, para a maior, eu quero colocar em um curso de informática. Melhorou a qualidade de vida delas”, reforça.
Re-ciclo
O Re-ciclo é fruto da premiação que Fortaleza recebeu do Desafio Global de Mobilidade Urbana 2019, organizado pela Transformative Urban Mobility Initiative (TUMI), e nasceu da parceria entre a Agência Alemã de Cooperação (GIZ) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Criado pelo Laboratório de Inovação de Fortaleza (Labifor), é coordenado pela Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação (Citinova) e conta com parceria da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP) e da Ecofor.O projeto atua hoje em parceria com associações locais, com aproximadamente 30 associados, que fazem a coleta de resíduos de 12 bairros da cidade. Desde o início das operações, em setembro de 2022, o Re-ciclo já coletou mais de 560 toneladas de materiais recicláveis e gerou aproximadamente 512 mil em renda para as associações. Somente no último Réveillon, o Re-ciclo foi responsável pela coleta de 7,5 toneladas de resíduos recicláveis que geraram cerca de R$ 20 mil para os catadores credenciados.
