A cidade de Fortaleza venceu, nesta semana, duas importantes competições para apoio e patrocínio a projetos de mobilidade urbana sustentável da Prefeitura que começam a ser implementados ainda em 2019. O primeiro foi anunciado nesta segunda-feira (09/09), em Toronto, no Canadá, durante a conferência “Desenhando Cidades”, da associação norte-americana National Association of City Transportation Officials (Nacto, EUA), denominado “Ruas para Crianças” ou Street for Kids, no original em inglês. Com o resultado, Fortaleza receberá treinamentos de primeira linha para projetar ruas “amigas da criança”, alinhados com as melhores práticas internacionais na área. Vai obter, também, apoio financeiro para a execução do projeto Caminhos da Escola, já em fase de elaboração pela Prefeitura de Fortaleza, como parte do programa Missão Infância.
A ideia do Caminhos da Escola é implementar intervenções no entorno de escolas públicas municipais com melhorias de segurança viária e requalificação urbana priorizando as crianças, incluindo novas calçadas, travessias elevadas, nova sinalização de trânsito e ações lúdicas. Das 100 cidades que participaram da competição internacional, Fortaleza e outras três vão receber o mesmo apoio - Kigali, em Ruanda (na África), Santiago, capital do Chile, e Tirana, na Albânia (Europa Oriental). Outras oito cidades na África, Ásia, Américas Central e do Norte vão receber workshops para aprimorar o redesenho de ruas mais amigáveis às crianças.
O programa Caminhos da Escola tem como objetivo garantir a segurança viária de crianças nos seus deslocamentos diários, por meio da implantação de intervenções em áreas escolares. Para cada tipo de intervenção de desenho urbano será desenvolvido um projeto-piloto, levando em consideração as peculiaridades de cada entorno escolar. Poderão ser implementados, por exemplo, elementos de renovação, adequação e ajustes da sinalização viárias, requalificação e prolongamento de calçadas, implantação de travessias elevadas, áreas de paraciclos, novos semáforos para pedestres e limites de velocidade, iluminação em LED, requalificação de paradas de ônibus, promoção de campanhas educativas, entre outros. A intenção é que o entorno das escolas sejam áreas de convivência e brincadeiras.
"Se você cria uma rua que funciona para crianças, você cria uma rua que funciona para todos", disse Janette Sadik-Khan, presidente da Nacto e diretora da Bloomberg Associates. "Colocar todos na rua em pé de igualdade é como as cidades podem liderar pelo design e alcançar padrões mais altos de cuidado urbano", considerou. O programa “Ruas para Crianças” é patrocinado pela Fundação Bernard van Leer, Fundação FiA, Fundação Botnar e pela Bloomberg Philanthropies.
Consultoria em mobilidade urbana
O segundo reconhecimento veio do Instituto Sueco, uma fundação pública da Suécia, que selecionou a Prefeitura de Fortaleza para receber consultoria de um grupo de 40 “solucionadores de problemas” sobre um desafio de mobilidade urbana da cidade. O grupo é composto por start-ups, organizações governamentais do país europeu, universidades, além de ONGs especialistas em alternativas sustentáveis para o desenvolvimento das cidades. A consultoria terá duração de dois anos, sendo a primeira reunião desse grupo em Medellín, na Colômbia, nos dias 21 e 22 de novembro, e é apoiada por missões estrangeiras no Brasil, Colômbia e México, pela Business Sweden, ONU Habitat e KTH Royal Institute of Technology da Suécia, em cooperação com o Gather Festival, Enact e Impact Hub.
“Queremos apresentar nossos avanços, mas também desafios para tornar o transporte público cada vez mais atraente, confortável e seguro para os usuários. É determinação do prefeito Roberto Cláudio que o transporte público seja sempre a espinha dorsal da política pública de mobilidade urbana da Prefeitura de Fortaleza”, explica o secretário executivo de Conservação e Serviços Públicos de Fortaleza, Luiz Alberto Saboia.
A política de Mobilidade Urbana Sustentável desenvolvida pela Prefeitura de Fortaleza é apoiada pela Bloomberg Philanthropies, por meio de um programa de segurança viária, a "Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global". Em 2015, a capital cearense foi uma das dez cidades contempladas com o projeto e, hoje, conta com uma equipe de técnicos especializados, além de uma rede internacional de organizações, que dão suporte às ações do poder público municipal em melhorias no gerenciamento de dados, infraestrutura, fiscalização, educação e comunicação.
Em todo o mundo estão participando do mesmo projeto as cidades de Accra, em Gana; Addis Abeba, na Etiópia; Bandung, na Indonésia; Bangkok, na Tailândia; Bogotá, na Colômbia; Ho Chi Minh, no Vietnã; Shanghai, na China; Mumbai, na Índia; além de Fortaleza e São Paulo, no Brasil.
Em junho deste ano, Fortaleza recebeu uma das maiores cúpulas da temática no mundo - o “Mobilize Summit”. Organizado pelo Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP, da sigla em inglês para Institute for Transportation and Development Policy), com a parceria da Fundação Volvo para Educação e Pesquisa. A realização do evento na capital cearense foi parte do prêmio “Sustainable Transport Award” (STA, na sigla em inglês) conferido à cidade de Fortaleza ainda em 2018 por projetos inovadores para promoção da sustentabilidade no deslocamento urbano, por melhorar a mobilidade em geral da população, redução de gases do efeito estufa e melhoria da segurança e infraestrutura para ciclistas e pedestres.
Desde 2018, Fortaleza também participa de uma rede de cidades comprometidas com a mobilidade sustentável da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), denominada “Safer Cities Streets”, ou Ruas Seguras para Cidades em tradução livre. A parceria inclui o compartilhamento dados e melhores práticas e soluções em mobilidade sustentável adotado por 40 cidades que integram a iniciativa.
Intervenções em Mobilidade Urbana Sustentável fazem a diferença
Desde 2013, a Prefeitura de Fortaleza vem investindo no transporte público da capital, que registra uma média de 1,1 milhão de passageiros por dia. As faixas exclusivas para os coletivos saltaram de 3,3km em 2013 para 109,2 km neste ano, um crescimento de 32 vezes em relação à extensão original. A implantação do Bilhete Único favoreceu a inclusão social com a criação de uma tarifa única integrada e melhorias como reformas nos terminais de ônibus, disponibilização de WiFi em 100% da frota e ar-condicionado em 35% dos veículos, além do aplicativo “Meu Ônibus” com funções de previsão de chegada e denúncia de assédio sexual que tem buscado estimular o uso do sistema.
Já no quesito cicloviário a rede saiu de 68km em 2013 para 263 km até setembro deste ano, uma expansão de 276% em menos de seis anos. Uma pesquisa realizada pelo ITDP calculou que 40% da população de Fortaleza mora, no máximo, a uma distância de 300 metros da rede cicloviária. A cidade também conta com quatro sistemas de bicicletas compartilhadas: Bicicletar, Bicicleta Integrada, Mini Bicicletar e Bicicletar Corporativo, para a população em geral, para integração com o transporte público, para crianças e para os funcionários municipais, respectivamente. O primeiro sistema implantado, o Bicicletar, já registrou mais de 2,5 milhões de viagens. Já as três rotas da Ciclofaixa de Lazer, aos domingos, também buscam aproximar usuários da alternativa de deslocamento.
Quanto aos investimentos para as pessoas que andam a pé, os organizadores destacam as áreas de trânsito calmo (Rodolfo Teófilo e Vila União) e programas como o “Cidade da Gente” que reconquistaram mais de 6 mil m² de áreas degradadas para o convívio urbano. Ações em interseções viárias, como o programa Esquina Segura, com melhoria de visibilidade em 224 cruzamentos, que já resultaram em 61% de redução de acidentes, também são destaque, além da incorporação de novos elementos para o conforto de quem anda a pé, como travessias elevadas, ilhas de refúgio, semáforos para pedestres, prolongamento de calçadas e travessias em "x". A organização também menciona o tratamento viário com readequação de velocidade em vias com alto índice de atropelamentos, como na Av. Presidente Castelo Branco (Leste-Oeste) e Osório de Paiva.
Como resultado desse esforço combinado também com ações de análise de dados, fiscalização e campanhas educativas de comunicação, a Cidade vem conseguindo atingir novos recordes, ano após ano, na redução de mortes no trânsito. Ao longo de 2018 foram registrados 226 óbitos decorrentes de acidentes de trânsito em Fortaleza, um número 40% menor do que as 377 mortes em 2014. A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes, usada para comparar os índices entre cidades e países de todo o mundo, caiu de 14,7 para 8,5 no mesmo período. Para se ter ideia, segundo a OMS, a taxa de mortes por 100 mil habitantes do Brasil em 2016 foi de 19,7. No mesmo período, a Suécia e a Dinamarca, consideradas referências mundiais, registraram respectivamente índices de 2,8 e 4,0 mortes por 100 mil habitantes.