Fundado em 1986, fruto da iniciativa de profissionais sensibilizados pela condição das crianças em desnutrição grave que viviam em situação de vulnerabilidade social e pobreza, o Instituto da Primeira Infância (Iprede) é um dos homenageados em 2022 pela Medalha Iracema, maior comenda outorgada pela Prefeitura de Fortaleza.
Atualmente, o papel do Instituto ultrapassa as barreiras da nutrição e funciona como um centro de referência na disseminação de conhecimentos técnico-científicos, produção e promoção da cultura e da arte relativos à primeira infância para a sociedade.
Em 1986, a mortalidade infantil ultrapassava 150 mortes de crianças a cada 1.000 nascimentos de crianças vivas. A desnutrição ultrapassando um terço delas, praticamente todas na desnutrição severa. Por meio da iniciativa de sete mulheres, lideradas pela fisioterapeuta Ana Norões, a enfermaria para o combate a desnutrição iniciada no hospital Albert Sabin cresceu e se tornou o primeiro e o único hospital da América Latina para a finalidade.
Posteriormente, virou referência internacional como centro de estudos sobre desnutrição, inclusive abrigando uma sede do Instituto de Nutrição de Londres. O contexto foi explicado pelo atual presidente do Instituto, Francisco Sulivan Bastos Mota. "Naquela época, realmente havia necessidade de internamento porque senão a criança morria. Por outro lado, as ações contra a fome foram funcionando, a desnutrição foi diminuindo, a segurança alimentar foi aumentando e nós chegamos ao ponto de deixar de ter um hospital para nos tornarmos apenas atendimento ambulatorial em 2006", relembrou Sullivan Mota, destacando que a melhora foi devido a eficácia dos programas desenvolvidos pelo terceiro setor junto ao Governo Federal.
A criança que chega ao Iprede possui de zero a seis anos. Em 2006, iniciava-se o estudo dessa faixa etária, a primeira infância, sobretudo nas universidades de Harvard e Québec, instituições que influenciaram diretamente os programas desenvolvidos localmente através do estudo do desenvolvimento da criança, que inclui também a questão da nutrição.
"Hoje, continuamos ligados à nutrição, mas estamos vendo a criança de forma ampliada. Então essa casa deixou de ser um 'centro de engorda', para ser um local de estimulação dessas crianças a despeito delas viverem em situação de vulnerabilidade social, ter um desenvolvimento cerebral que faça com que elas possam ter, no futuro, uma vida de qualidade e de paz”, destacou, enfatizando que para dar conta desse complexo estímulo, o Iprede conta com mais de vinte profissões que avaliam, compreendem e atendem as necessidades da primeira infância.
Atualmente, o Iprede assiste 1.350 crianças com déficit de desenvolvimento e alterações do comportamento, contabilizando 950 famílias. Dessas, 600 possuem diagnóstico de autismo, que recebem atendimento gratuito pelo Sistema Único de Saúde de 15 especialistas. O espaço desenvolve, ainda, 26 projetos em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) também buscando expandir a janela funcional da primeira infância.
Apoio à trajetória feminina
Para a criança se desenvolver, ela precisa não somente do estímulo cerebral, mas também de um ambiente familiar que acolha esse crescimento. Dessa maneira, o Iprede passou a investir esforços também no vínculo família, sobretudo na mulher, mãe e liderança do lar, desenvolvendo a trajetória feminina para que elas desenvolvessem autonomia.
"Esta é a personagem mais sofrida que a sociedade possui. São mulheres abaixo da linha da pobreza, sem profissão, sem noções de comunicação e sem autoestima. Dentro do Iprede, temos, hoje, uma das maiores escolas profissionalizantes para que possam ter uma inclusão produtiva no mercado de trabalho e ser provedora da família. Ela se transforma e, assim, também eleva seus filhos", disse Sullivan Mota.
A profissionalização no Iprede inclui funções na cozinha, limpeza, recepção, atendimento ambulatorial, dentre outras atividades que o Iprede disponibiliza. Habilidades como trabalhar em equipe, economia familiar, higiene, saúde feminina, dentre outros temas, passam a ser incorporados por essas participantes.
Sobre a Medalha Iracema
Maior comenda do Poder Executivo Municipal, a Medalha Iracema homenageia personalidades que contribuem em sua área de atuação profissional para o desenvolvimento da cidade de Fortaleza.
Esta é a quinta vez que a Prefeitura concede a outorga. Em seu primeiro ano, 2018, a Medalha homenageou a jornalista Adísia Sá, o professor e arquiteto Liberal de Castro e o cantor e compositor Raimundo Fagner. Na edição de 2019, foram homenageados o médico e professor universitário José Otho Leal Nogueira, o ex-senador Mauro Benevides e o empresário Pio Rodrigues Neto. Em 2020, receberam a comenda o engenheiro civil Eudoro Santana, o empresário Júlio Ventura Neto, o humorista Tom Cavalcante e o cineasta Wolney Oliveira.
Em 2021, os agraciados com a Medalha Iracema foram o professor Roberto Cláudio Frota Bezerra, a desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira, o músico Ednardo, e a surfista Tita Tavares.