“É o meu nono filho e a primeira vez que tenho algum tipo de apoio.” A frase é da dona de casa Maria Laíde Moura Gomes, mas reflete a realidade de muitas mães que amamentam. Maria deu à luz um menino no Hospital Distrital Gonzaguinha do José Walter (Regional V) nesta terça-feira (06/08) e no dia seguinte (07/08), foi uma das primeiras a receber orientações durante a inauguração da 10º Sala de Apoio à Mulher que Amamenta/Posto de Coleta, do Município de Fortaleza.
O local é parte da nova reestruturação das políticas públicas da primeira infância, que, entre outras ações, fortalece protocolos de atendimento às gestantes, requalifica as salas de parto das maternidades e melhora a assistência pré-natal nos postos de saúde da Capital. A iniciativa busca ampliar o compartilhamento de informações sobre os benefícios do aleitamento materno, além de orientar as mães quanto às técnicas para uma amamentação bem sucedida.
“Amamentar parece um ato instintivo, mas muitas mulheres precisam de orientação. Além de informar, sensibilizar e falar da importância do aleitamento, o serviço também estimula a doação do leite materno. É um ato que extrapola qualquer prova de amor, porque além de alimentar seu filho, a mãe ajuda na sobrevivência de bebês prematuros e consequentemente na redução dos índices de mortalidade infantil”, destacou a secretária adjunta da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Ana Estela Fernandes.
A amamentação é algo natural, mas exige muito esforço e dedicação durante os seis primeiros meses de vida do bebê. As dificuldades na hora de ajustar a pega do bebê, as rachaduras nos seios e o mito do leite fraco são as principais causas da desistência de muitas mães.
“Orientamos massagear a mama antes de começar a amamentar, colocar o bebê na posição 'barriga com barriga', prestar atenção na pega correta e também iniciamos o trabalho de desmistificar assuntos que acabam virando verdades, como a história de que a mãe não tem leite suficiente ou que o leite dela é fraco”, explicou a enfermeira Katia Giffoni, uma das profissionais da Sala de Apoio, que também conta com técnicos de enfermagem.
O leite materno contém todos os nutrientes necessários ao lactente até os seis meses de vida, além de propriedades imunológicas que o protegem de doenças comuns da infância, como diarreia e pneumonia, importantes causas de mortalidade infantil.
Fortaleza está indo no caminho contrário ao do País quando se fala de mortalidade infantil. O Brasil registrou um índice de 14 mortes por mil nascidos vivos em 2018, conforme dados do Ministério da Saúde, enquanto na capital cearense essa taxa foi de 11,3. Em 2017, o dado na Cidade era de 13,5, frente a 13,8 no Ceará e 12,8 no Brasil.
Desde de 2015, é possível observar também a redução no índice de mortalidade materna, fruto da consolidação das políticas públicas direcionadas à rede maternoinfantil do Município. Em 2018, foi registrada a maior queda desse índice, alcançando o marco de 25,1 mortes por mil habitantes. Quando comparado ao ano de 2012, período em que foi registrado o índice de 64,8, houve uma redução de 61%.
O ato de amamentar também apresenta vantagens para a saúde das mulheres, ajudando-as a retornar ao peso pré-gestacional e reduzindo o risco de desenvolver câncer de mama e de ovário. A dona de casa Daniele Monteiro conseguiu amamentar os quatro filhos, mas pela primeira, vez doará leite materno. Depois dos ajustes e das orientações das profissionais do Hospital Gonzaguinha, ela já está ansiosa para voltar para casa e ajudar outras crianças.
“Na primeira gestação eu não sabia nem colocar o bebê para mamar, não tinha orientação há dez anos. Agora, eu já passo informações para as minhas amigas, já sei explicar sobre a boquinha e falo da doação também. Eu só aprendi a doar por causa dessa sala. O leite que sobrava ia todo pra o lixo, mas agora não vai mais, vai direto para outras crianças”, contou Daniele.
Parceria
Por meio de uma parceria entre a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Estado, o leite doado nas salas abastecem o estoque dos bancos de leite de três hospitais da rede pública: Hospital Geral César Cals, Hospital Infantil Albert Sabin e Hospital e Maternidade Escola Assis Chateaubriand.
Fortaleza é pioneira na política de instalar pontos de coleta em postos de saúde. Atualmente, cinco equipamentos estão em postos e outros cinco são vinculados aos bancos de leite dos hospitais.
"Cada litro doado alimenta dez prematuros por dia. Cada sala consegue captar entre 4 e 5 litros de leite humano por mês. São dezenas de bebês recebendo o leite e sendo salvos. Iniciamos esse trabalho ainda nos grupos de gestantes dos postos de saúde, conscientizando as mães, e isso tem aumentado os índices de mulheres que amamentam de forma exclusiva até os seis meses", destacou Ritemeia Mesquita, assessora técnica da Área da Criança.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação deve continuar de forma complementar até os dois anos de idade.
SMAM 2019
A entrega da Sala de Apoio à Mulher que Amamenta também coincide com o encerramento da Semana Mundial do Aleitamento Materno 2019 (SMAM), um movimento global que, durante o mês de agosto, intensifica atividades de apoio a mulheres lactantes. Nesta edição, a SMAM aborda a importância do envolvimento de todos os familiares próximos, e não apenas da mãe, para que seja possível o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida do bebê.
Nos postos de saúde de Fortaleza, os profissionais intensificaram as palestras e a distribuição de material informativo sobre o tema. A iniciativa envolveu toda a comunidade próxima aos equipamentos e que participou das atividades e doou vidros para o armazenamento correto do leite. O vigilante Stenio Barbosa dos Santos foi pai pela segunda vez e diz que aprendeu em casa o valor do apoio familiar.
"Eu sou o mais novo de nove filhos e fui criado por todo mundo. Aprendi a ajudar e eu sempre cuidei dos meus filhos, fico acordado quando posso, vou pegar no berço e espero arrotar. Se não é facil para mim, imagina para ela que teve a criança, né", disse.
Saiba Mais
Dados da OMS apontam que somente 40% das crianças têm amamentação exclusiva nos seis primeiros meses de vida.
A rede municipal conta com salas para coleta de leite humano nos postos de saúde Rigoberto Romero (Regional II), Roberto Bruno (Regional IV), Ronaldo Albuquerque (Regional V) e Luis Franklin (Regional VI), no Hospital e Maternidade Zilda Arns, Hospital Nossa Senhora da Conceição e nos Gonzaguinhas da Barra do Ceará e de Messejana. Os equipamentos estão conveniados aos bancos de leite do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), Hospital Geral Dr. César Cals e Hospital Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), Posto de Saúde Dom Aloísio Lorscheider, no bairro Dendê (Regional IV), e agora no Hospital Distrital Gonzaguinha do José Walter.
A 11º sala será inaugurada no Posto de Saúde Jurandir Picanço (Regional V). A previsão é que a entrega aconteça ainda neste mês de agosto.