A Prefeitura de Fortaleza divulgou, nesta quinta-feira (07/05), por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), um relatório técnico sobre o cenário da Covid-19 na Capital. Os dados foram apresentados em coletiva de imprensa virtual. Participaram do momento a secretária adjunta da Saúde, Ana Estela Fernandes, o gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da SMS, Antônio Silva Lima Neto, o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Soares, e o secretário de Saúde do Estado do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues (Dr. Cabeto).
Na ocasião, foi apresentado o boletim epidemiológico e um estudo de projeção da pandemia do novo coronavírus em Fortaleza e no estado do Ceará. Segundo os especialistas, é possível fazer algumas previsões, caso o isolamento social rígido não seja cumprido pela população.
Clique e confira a apresentação do Cenário Covid-19 em Fortaleza
Clique e confira a Modelagem Epidemiológica apresentada pelo Prof. José Soares
Os primeiros dados eram sobre o atual cenário na Capital, que indicaram uma mudança de patamar da transmissão. “Há um aumento bastante relevante, sobretudo, identificado nas fatalidades, que de alguma forma dialoga com a propagação da doença para as mais diversas áreas da Cidade”, explicou Antônio Silva Lima Neto.
O estudo mostrou que Fortaleza vivenciou duas ondas epidêmicas, segundo ele. “A primeira onda se estende até 31 de março, onde parece que vai diminuir, mas depois há uma expansão para essa segunda onda, que coincide com a dispersão do vírus para as outras áreas, as mais vulneráveis da Capital", explanou.
No mapa de confirmação de casos por bairros em Fortaleza, observou-se que o número maior se aplica aos locais onde a epidemia começou. “Lá, a testagem era mais ampla, mais acessível, sobretudo na área do Meireles, Aldeota, Cocó e Mucuripe, que começaram com os casos importados. Mas hoje, temos uma confirmação bem maior em áreas mais vulneráveis. Já são mais de 150 casos no Vicente Pinzon e, sobretudo, no Cristo Redentor, Barra do Ceará e também em direção à Regional 5 e parte da Regional 6. São áreas muito importantes para nós porque contêm grandes aglomerados, principalmente se pensarmos em exaustão do sistema de saúde”, alertou.
O mapa de calor também mostra as áreas onde a transmissão está ganhando amplitude, confirmando que os casos estão aumentando nas regiões mais vulneráveis.
Projeção de óbitos
Quanto às fatalidades, os dados demonstraram um padrão mais exponencial. “Na nossa curva de óbitos, a gente percebe uma mudança de padrão impressionante nos últimos dez dias. Temos hoje uma média de 16 óbitos confirmados por dia. Mas quando a gente analisa as últimas semanas, essa média sobe para 30 óbitos por dia e a expectativa ainda é, infelizmente, de um aumento de fatalidades neste momento”, disse.
Em relação à faixa etária, o estudo mostra que Fortaleza representa o município de maior número de mortes em todas as faixas. E ainda destaca que as mortes se concentram em áreas de baixo IDH. “Infelizmente, estes desfechos fatais se concentram muito nos bairros de baixo IDH. Quase 90% dos óbitos, até o momento, aconteceram nestes bairros", destacou o Gerente.
Na coletiva, também foi apresentado um estudo elaborado pelo professor José Soares, da Universidade Federal do Ceará (UFC), no qual é possível fazer previsões acerca da situação epidemiológica. “Por que essa epidemia é difícil de ser modelada matematicamente? Porque é uma contaminação invisível e silenciosa, tem alta eficiência de contágio, alto tempo de incubação e a alta mobilidade dos tempos modernos. Quando você combina estes quatro fatores, isto nos leva a uma epidemia sem precedentes”, pontuou.
Isolamento necessário
Por meio dos dados e projeções, José Soares mostrou que o primeiro decreto do Governo do Estado foi o mais eficiente. "Vemos que a curva foi achatada. Mas em seguida, vemos também que o isolamento mais rígido precisa ser aplicado, infelizmente”, afirmou.
Conforme o professor, a estimativa de parâmetros foi feita em cima do número de óbitos, já que a testagem ainda não é suficiente. "Nossa previsão é uma projeção de aproximadamente 4 mil óbitos até o dia 31 de maio. Então, o lockdown se vê necessário na Cidade”, completou.
Soares também apontou possíveis soluções. “Primeiro, é preciso entender que os bairros de Fortaleza se encontram em fases diferentes da epidemia. Mas há aplicativos, por exemplo, que conseguem capturar a trajetória das pessoas. Eles são capazes de coletar dados, caso as pessoas permitam que sejam rastreadas ao longo do tempo. Assim, é possível rastrear e identificar aquelas pessoas que foram infectadas, assim como aquelas que tiveram apenas contato perigoso etc.”, concluiu.
Ações municipais
A secretaria executiva da Saúde de Fortaleza, Ana Estela Fernandes, ressaltou as medidas que a Prefeitura vem tomando e destacou a preocupação em aumentar a capacidade de acolhimento dos pacientes. “Há mudanças consideráveis em todos os níveis de Atenção. Na Primária, com atuações mais incisivas na última semana, com os Postos fazendo atendimento e monitoramento para diagnóstico precoce, assim como os Agentes de Endemias colaborando com a identificação, orientação e sensibilização da população. Nas UPAs municipais estamos entregando hoje 170 novos leitos de observação, o que significa um aumento de 170% nesta porta de entrada", lembrou.
A Secretária destacou, ainda, que o hospital de campanha do Estádio Presidente Vargas iniciou, nesta quinta-feira (07/05), as atividades do quarto bloco, que tem 17 novos leitos.
"Também estamos abrindo hoje mais 10 leitos no IJF2, totalizando 60 leitos de terapia intensiva, e para a próxima segunda-feira está prevista a abertura de uma enfermaria com 47 leitos. Temos ainda mais 8 leitos de UTI no Hospital da Mulher com mais 19 de enfermaria. No Frotinha do Antônio Bezerra, estamos colocando mais 8 leitos de terapia intensiva e 24 de enfermaria. No total, já expandimos no Município 103 leitos de terapia intensiva, 170 de observação e 247 leitos de enfermaria", ressaltou Ana Estela.