Muita coisa mudou para os soropositivos no Brasil nas duas últimas décadas. Os avanços tecnológicos na área dos fármacos e o fácil acesso aos medicamentos transformaram a vida de quem vive com HIV. Atualmente, a maioria das pessoas diagnosticadas com o vírus que realizam o tratamento de forma correta é considerada indetectável, ou seja, são soropositivos que levam uma vida normal, tanto em longevidade como em relação à não transmissão da doença.
“No começo foi um pesadelo. Só descobri após um ano da morte da pessoa com a qual me relacionava. Primeiro, fiz um exame no posto de saúde e recebi o diagnóstico. Foi um baque, cheguei com medo e muito apreensivo ao posto”, contou João Silva (nome fictício), que, há apenas 4 meses, descobriu ser soropositivo.
De acordo com Marcos Paiva, coordenador da Área Técnica de IST/AIDS, com o uso de medicação, a expectativa de vida de uma pessoa com HIV é semelhante a de outra que não tem. “O conceito de sobrevida não é mais usado. A pessoa com o vírus consegue ter uma qualidade de vida. É preciso dizer que a AIDS é uma doença séria, que pode matar, mas que, na maioria das vezes, o óbito só existe quando há uma associação ao não uso dos medicamentos”, completou.
Para fortalecer o combate à doença, a Prefeitura de Fortaleza desenvolve três frentes: a prevenção, a promoção da saúde e o diagnóstico/tratamento. Neste último, são ofertados serviços multidisciplinares, com profissionais de diversas áreas da saúde por meio dos Serviços Ambulatoriais Especializados (SAE).
A equipe do SAE é formada por psicólogo, que dá o suporte emocional, avaliando a necessidade de cada indivíduo; assistente social, que observa as questões da vulnerabilidade social que o indivíduo apresenta e quais benefícios ele pode acessar; enfermeiro, que realiza o atendimento em parceria com o médico do acompanhamento; e o médico infectologista, cuja função é solicitar e avaliar os exames, além de prescrever as medicações.
O tratamento multidisciplinar e o acolhimento prestado têm como objetivo tranquilizar o paciente, que recebe as informações e cuidados necessários. “As meninas do posto fazem a diferença e me atenderam muito bem. Deram todo o aparato psicológico, moral e presencial. Tiraram todas as minhas dúvidas, desde o Whatsapp de como chegar aqui, sobre o tratamento, como seria a primeira consulta e o exame. Fui muito bem recebido em tudo. Isso vem me acalmando”, declarou João.
Embora muito tenha sido feito para o controle da doença, o preconceito e a falta de informação ainda existem, como explicou Patrícia Sousa, enfermeira do SAE da Policlínica Dr. João Randal. “Tem gente que acha que ter HIV é uma sentença de morte, que se questiona se vai poder abraçar o filho. Nós vamos trabalhando e explicando que a expectativa de vida é igual à de qualquer outro paciente, se fizer o tratamento. Inclusive, tornando-se indetectável, com carga zero, que não transmite mais”, atentou.
Para diminuir esses estigmas, é realizado, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), campanhas no âmbito da prevenção e da promoção da saúde, a exemplo do projeto Fique Sabendo Jovem, uma parceria com o Unicef para levar prevenção, diagnóstico e oportunidade de esclarecimento à população de 15 a 24 anos.
A ação conta com uma unidade móvel que se desloca para locais cujo público possua um perfil mais vulnerável, como boates, barracas de praias e espaços no entorno do Centro. Lá, é realizada uma sensibilização e a distribuição de material informativo e testes rápidos de HIV, que caso seja positivo, o paciente já sai com consulta agendada. Além desses serviços, são distribuídos preservativos gratuitos (masculinos ou femininos) nas unidades de saúde e realizados testes rápidos, além dos encaminhamentos aos serviços.
A profilaxia pré-exposição (PREP) será liberada ainda neste mês de dezembro, na Rede Municipal. A PREP consiste no uso de medicação para evitar a infecção pelo vírus HIV de público prioritário, como travestis, transexuais, casais sorodiferentes, usuários de drogas, profissionais do sexo, entre outros.
Caso o fortalezense tenha tido relação sexual desprotegida ou sofrido acidente com material cortante em até 72h, basta se dirigir ao Hospital Estadual São José para realizar a PREP, minimizando o risco de infecção.
A rede de atendimento às pessoas que vivem com HIV conta com 13 equipamentos ligados ao Município, incluindo os da Rede Federal e Estadual, sendo sete delas da Prefeitura. Todos os serviços, inclusive os testes rápidos que podem ser realizados nas unidades básicas de saúde, são gratuitos.
Durante o ano de 2019, foram realizados aproximadamente 50 mil testes rápidos e distribuídos cerca de 12 milhões de preservativos na capital cearense. Na Rede Municipal, são atendidas 7.180 pessoas vivendo com HIV/Aids, por meio dos Serviços Ambulatoriais Especializados (SAE).
A Prefeitura de Fortaleza disponibiliza à população que vive com HIV 300 cestas básicas e mil bilhetes únicos por mês, cada bilhete com 30 passagens/mês. A partir do próximo ano, serão 2 mil bilhetes na mesma modalidade.
Prevenir-se é sempre a melhor opção. Caso haja dúvida, faça o teste. E caso o resultado seja reagente, todo tratamento da doença é disponibilizado pelo município de Fortaleza. O diagnóstico e o tratamento precoces fazem a diferença.
Dezembro Vermelho
Durante este mês, a Prefeitura de Fortaleza promove a campanha Dezembro Vermelho, em alusão à luta contra o HIV, à necessidade da prevenção da doença, à quebra dos diversos preconceitos e ao reforço da oferta de serviços para diagnóstico e tratamento.
O tema da campanha deste ano é “AIDS – vencendo o preconceito e ampliando a assistência”. O objetivo é sensibilizar a população sobre a prevenção e o tratamento oportuno contra o HIV/Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
Durante a campanha, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) intensificará as ações nos 113 postos de saúde, com apresentações de vídeos, palestras e a busca ativa para realização do teste rápido. Ações de sensibilização em praças e órgãos públicos também serão realizadas durante todo o mês.
Fortaleza dispõe de uma rede que possibilita o diagnóstico oportuno de HIV/Aids, com oferta de testes nos postos de saúde e nos serviços ambulatoriais especializados, além do Centro de Testagem e Aconselhamento. O atendimento envolve ainda o aconselhamento pós-teste, em que o profissional tira dúvidas sobre o resultado e faz os devidos encaminhamentos para os casos diagnosticados reagentes.