Cultura, arte, ciência e esporte juntos em um mesmo espaço, gerando atividades teóricas e práticas. Esta é a vivência de muitos jovens de Fortaleza que frequentam a Rede Cuca e se beneficiam das atividades ofertadas nos equipamentos da Barra do Ceará, Jangurussu e Mondubim. A vulnerabilidade social nunca foi um fator limitante para eles.
A estudante Nicoly Mota, por exemplo, diz que se sentiu agraciada quando descobriu as atividades das quais ela poderia participar. "Eu lembro quando surgiram os boatos de que teria esse local onde iríamos estudar muitas coisas. Meus amigos não acreditavam. Eles acham que o Cuca é pago (risos). É bom tirar essa imagem. É de graça! Entrem nos cursos", disse.
Os cursos são apenas o primeiro passo. Com acesso a informações, aulas e palestras, os jovens são incentivados a pensar em projetos maiores. Quando a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude (CEPPJ), resolveu lançar o Programa de Jovens Monitores da Rede Cuca, o estudante Cristian Henrique Paulsson enxergou uma chance de crescimento. "Eu sempre gostei de Informática, desde criança. Tinha curiosidade em saber como cada peça do computador funcionava. Mas quando cheguei ao Cuca, não acreditava que o equipamento funcionasse bem, porque era mantido pelo Governo. Mas entrei, fiz cursos ligados na área, até que cheguei a uma monitoria", conta.
O edital do Programa foi lançado em julho deste ano e, por meio de uma seleção, 60 jovens entre 16 e 29 anos foram contemplados. Com a função de auxiliar os professores em sala de aula e orientar alunos que estejam com dúvidas, eles adquirem também aprofundamento na área pela qual optaram se dedicar.
Inclusão e paixão pela Informática
Cristian Henrique Paulsson é pernambucano e apaixonado por Informática desde os sete anos. Quando se mudou para Fortaleza, começou a frequentar o Cuca do Jangurussu. Durante mais de dois anos, participou de cursos e teve acesso a conteúdos ligados à Informática, até que um professor sugeriu que ele buscasse a monitoria. "O professor me indicou. Eu passei por todos os processos e não foi fácil. Tive que estudar bastante e me desdobrar", explicou.
Aos 19 anos, Cristian já tem metas traçadas para o futuro. "Pretendo fazer um curso técnico e, talvez, venha trabalhar aqui no Cuca. Mais adiante, penso em fazer uma faculdade na área da tecnologia", comentou. Por enquanto, ele se dedica e participa ativamente das aulas ajudando a tirar dúvidas dos alunos. O fato de ser cadeirante nunca trouxe problemas para ele. "Acredito que vivenciar toda essa experiência seja um diferencial para mim no futuro, pelo fato de eu ser cadeirante. Eu já me acostumei, mas sei que é difícil. Quero chegar ao mercado com conteúdo na cabeça e conhecimentos a mais", explicou.
Da música para o audiovisual
Quando ainda morava em Russas, no interior do Ceará, o estudante Gleidson Melo, de 28 anos, já sonhava com a música e em gravar o primeiro videoclipe. Quando veio morar em Fortaleza, foi no Cuca da Barra do Ceará onde o sonho ganhou forma. Através do curso de audiovisual, ele aprendeu as técnicas de filmagem, edição e fotografia e se apaixonou.
A dedicação era para se manter sozinho em uma cidade onde não podia contar com quase ninguém. "Quando eu fiquei desempregado, conheci a Rede Cuca. Tive que deixar de procurar emprego só para estudar. Foi uma escolha e tive que arcar com as consequências, já que não tinha o apoio dos meus pais. Mas consegui gravar minha primeira música e depois veio a gravação do videoclipe. Aí nasceu minha paixão pelo audiovisual", disse o estudante que, ataravés da monitoria, começou também a planejar o futuro. No Cuca da Barra, Gleidson dá suporte nas aulas de fotografia, mas em horários livres, faz aprofundamento em técnicas de edição. Assim, ele se desenvolve na área em que pretende atuar profissionalmente. "Penso em trabalhar com audiovisual na minha cidade natal, em Russas, para que a arte no interior não fique estagnada. Mas sei que aqui posso trabalhar com isso também. Fazer ensaios, cobrir eventos como aniversários e casamentos e, assim, conseguir investir em novos equipamentos", destacou.
Monitoria e vôos mais altos
A jovem Nicoly Mota, de 21 anos, encontrou na monitoria o atalho para alcançar degraus mais altos. Foi a paixão pela arte que a fez procurar uma unidade do Cuca para elaborar e desenvolver atividades ligadas ao teatro e à música. Ela é Jovem Monitora na área de audiovisual. "A monitoria está sendo uma experiência agregadora para mim. Sempre fui autodidata e é bom estar próxima a todos esses equipamentos e pessoas que trabalham com cinema, que é minha grande paixão. Está sendo muito bom. Em dois meses aprendi muito sobre visões, planos, criatividade, ir além do que já é esperado. Peguei a parte teórica além da criativa", explicou Nicoly, que agora se prepara para dar um passo maior.
A atuação de Nicoly como monitora termina em janeiro de 2020. Antes disso, Nicoly vai migrar para outro projeto da Prefeitura, o Bolsa Jovem. Ela consegue enxergar um progresso, uma chance de poder financiar os próprios sonhos. "O Bolsa Jovem chegou para satisfazer o meu 'eu' artístico, para investir no que eu quero. Eu quero trabalhar em cima de um curta. Este é o meu projeto. Quero enviá-lo para festivais, dar o máximo que eu puder nele e ter dinheiro para comprar equipamentos e pagar pessoas que queiram trabalhar comigo", disse.
A iniciativa nasceu com o objetivo de aumentar a participação dos Jovens Monitores nas atividades de ensino e aprendizagem da Rede Cuca, bem como fortalecer a mobilização e participação juvenil, contribuindo, desta maneira, para a melhoria dos cursos, projetos, atividades e ações desenvolvidas.
Para o Coordenador da Juventude, Julio Brizzi, a função primordial da Rede Cuca é a garantia e o exercício de direitos da juventude. "Tudo gira em torno disso. Garantir direitos de juventude passa por uma formação de qualidade, por acesso à cultura, leitura, ao esporte e à convivência em um espaço de respeito às diferenças. A partir disso, o jovem vai se reconstruindo como sujeito. Hoje, a Rede Cuca tem sido um espaço de capacitação para o mundo do trabalho em diversas áreas. Capacita para o mercado formal em áreas como fotógrafia e audiovisual, e contribui para que o jovem também entre no mercado mais preparado, por intermédio de cursos de Inglês, Informática e Libras", disse.