Adry Kessyley, cabeleireira e mulher trans, já é proprietária de um salão de beleza. Mas quando soube que a Prefeitura de Fortaleza está ofertando capacitação em especialidades da estética para a comunidade LGBTQIA+, se matriculou no curso de barbearia em busca de especialização e de um diferencial para seu negócio. “Eu já atuo no ramo de cabeleireira, mas não como barbeira. Então, um dos meus objetivos é me especializar na área”, afirma Adry.
Os cursos gratuitos de barbearia, maquiagem e design de sobrancelha estão sendo realizados no mês de junho pela Secretaria Municipal da Juventude, em parceria com a Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS). As aulas ocorrem no Centro de Referência LGBT Janaína Dutra e no Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno. O principal objetivo é investir na capacitação dessa parcela da população estigmatizada e que pouco tem acesso ao mercado de trabalho.
Para Adry, os cursos ofertados abrem portas para a comunidade LGBTQIA+, que diariamente sofre com preconceito e falta de oportunidade, como já presenciou diversas vezes. “O mercado, hoje, exige muito do profissional. A gente bate na porta do mercado e não tem retorno. Mas a Prefeitura e o Centro de Referência LGBT Janaína Dutra vão ajudar muito”, acredita.
Amanda Agnes, que também é cabeleireira, avalia o mercado de trabalho como um local excludente, já que não via nenhuma oportunidade de emprego, principalmente para mulher trans. Ela destaca a importância dos cursos gratuitos ofertados pela Prefeitura, voltados para as pessoas da comunidade, que norteiam e abrem perspectivas para um outro futuro, fora do índice da pobreza e gerando empregos.
“Eu sou fruto de um curso ofertado pelo Centro de Referência. Há três anos, quando eu era moradora de rua, eu vi uma ação que estava ocorrendo e me inscrevi”, conta. Depois das aulas ofertadas, ela saiu da situação de rua em que se encontrava e foi empregada. Hoje, além de trabalhar, Amanda continua estudando e buscando evoluir profissionalmente.
O direito ao trabalho também é ressaltado pela maquiadora Paola Rubi. A artista, que está fazendo a capacitação em maquiagem, se inscreveu com o objetivo de aperfeiçoar as técnicas já estudadas, pois sempre se interessou por maquiagem desde muito nova e viu um ótimo momento para praticar. “Eu acho esse curso maravilhoso, porque todos nós temos direito a essas oportunidades e ao trabalho. Já está agregando muito ao meu trabalho enquanto profissional”, declara.
“A LGBTfobia não se resume à violência, à descriminação interpessoal mas ela também se expressa na forma de desigualdade, na falta de oportunidades”, afirma Tel Cândido, coordenador do Centro de Referência LGBT Janaína Dutra. Para Cândido, investir na formação profissional LGBTQIA+ é uma oportunidade de virar chaves e mudar muitas narrativas que não possuem perspectiva ou que nem mesmo conseguem começar.
Segundo ele, o curso é pensado tanto para a inserção dessas pessoas no mercado formal de trabalho quanto para o incentivo ao empreendedorismo, como uma alternativa possível de ser realizada após o aprofundamento e capacitação das aulas.
O índice de pessoas da comunidade LGBTQIA+ que buscaram as 70 vagas da capacitação foi alto e novas turmas podem ser ofertadas no próximo semestre. Segundo Cândido, o Centro busca ampliar o número de cursos e diversificar as especializações para aumentar o leque de opções. Ao fim do módulo, os participantes ganharão certificados pelo Instituto Juventude Inovação (IJI).