29 de January de 2021 em Social

Servidores trans da Prefeitura de Fortaleza contam suas histórias e falam sobre visibilidade

Dia da Visibilidade Trans é celebrado neste 29 de janeiro


mulher sentada em mesa de trabalho, usando máscara em frente a computador e posando para a foto
Viviane Venâncio é educadora social na Coordenadoria da Diversidade Sexual da Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social há três anos (Foto: Rodrigo Carvalho)

Em 2021, os espaços já conquistados pelas pessoas trans são resultado de diversos movimentos de valorização. Cada uma delas possui suas próprias experiências. No entanto, esta parcela da população ainda luta por direitos como reconhecimento da identidade, liberdade de ir e vir, colocação no mercado de trabalho, entre outras questões.

No Dia da Visibilidade Trans, celebrado neste 29 de janeiro, servidores e ex-servidores transexuais da Prefeitura de Fortaleza apresentam um pouco sobre suas trajetórias na instituição, ressaltam a importância da luta por mais inclusão e destacam os desafios que ainda enfrentam no dia a dia.

Rapaz em pé posando para a foto
Davi Medeiros conta que, durante sua transição, solicitou aos colegas o tratamento pelo novo nome e desde o início foi bem recebido

Davi Medeiros, que atuou como coordenador de Patrimônio Histórico Cultural entre 2018 e 2021, na Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor), começou a passar pelo processo de transição há dois anos, quando já ocupava o cargo. Ele conta que, no período, solicitou aos colegas o tratamento pelo novo nome e com pronomes masculinos, e que desde o início foi bem recebido.

“Na minha situação, estava confortável e não perdi nenhum tipo de credibilidade por causa disso. Mesmo em meio a cargos e faixas etárias diferentes, as pessoas não mudaram o jeito de agir comigo e, por isso, pude me afirmar melhor enquanto Davi, ganhei mais segurança e fiquei mais confortável de me relacionar com os outros”, conta.

Davi acredita que os avanços nas questões de gênero permitiram essa maior liberdade, principalmente por saber que antes de se reconhecer como homem trans, a comunicação costumava ser mais difícil. “Os acontecimentos na Prefeitura contribuíram para que eu pudesse tomar uma decisão. Na Secultfor também lidava com pessoas da comunidade LGBTQ+ em geral, o ambiente favorecia”, descreve.

Apesar dos avanços, as dificuldades existem. Na infância, a falta de um senso de pertencimento a um grupo de crianças; na juventude, a demora para concluir a graduação por não se encaixar em padrões estéticos exigidos no mercado; são alguns dos exemplos de situações que Davi relata.

“É muito sensível essa percepção do quanto a população precisa saber o que é ser trans. O quanto somos excluídos nas religiões, nas escolas, tudo é complexo. Tive dificuldades de relacionamento e diversos outros receios, e mesmo chegando a um cargo como eu cheguei, entendo a problemática. Neste dia, é importante destacar a nossa invisibilidade”, enfatiza.

Mulher de óculos e máscara posando para a foto
Jupyra Carvalho, produtora cultural do CCBel

Mercado de trabalho

A travesti Viviane Venâncio é educadora social na Coordenadoria da Diversidade Sexual da Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) há três anos. Antes disso, já atuava como ativista no movimento LGBTQ+ e afirma que, por ser uma pessoa trans, nasceu vivenciando o preconceito.

Hoje, aos 45 anos, considera seu trabalho satisfatório por continuar lutando diariamente por direitos, e se sente realizada no cargo. “Apesar de termos uma vida bem difícil, acho que é um lugar onde, lá atrás, eu jamais achei que chegaria. Houve avanços, mas não é suficiente, e por isso continuo aqui”, reforça.

Para Viviane, ainda existem muitas barreiras, principalmente no que concerne o acesso ao mercado de trabalho.
“Falar da vida da gente também engloba outras pessoas. Para nenhum LGBTQ+ é fácil. Mas o trans é uma pessoa normal que sabe fazer tudo e infelizmente, para alguns, ainda parece coisa de outro mundo”, explica, ressaltando a importância de continuar na luta por mais espaços.

Já para Jupyra Carvalho, produtora cultural no Centro Cultural Belchior (CCBel), trabalhar no espaço é uma oportunidade de mostrar a potência das pessoas trans, de estar em um lugar de decisão, ser consultada como líder e colocar sua visão de mundo na escolha da programação cultural.

“Para mim este um lugar é uma conquista, e não um lugar comum. Às vezes, caímos na armadilha de que não existem pessoas trans produzindo cultura na cidade, e existe uma barreira pois não existe uma quantidade mínima de pessoas trans trabalhando nesses locais”, comenta.

Além disso, ela considera a questão da visibilidade trans uma ambiguidade, pois também pode ser vinculada à discriminação. “Não podemos ver a data como definidora da nossa existência. O que ela traz é esse caminho que está sendo construído politicamente, para que não sejamos meramente decorativos, mas sim reconhecidos e possamos existir sempre, cotidianamente e profissionalmente”, completa Jupyra.

Sobre o Dia da Visibilidade Trans

O Dia da Visibilidade Trans foi criado em 2004, quando um grupo de 27 pessoas trans foi ao Congresso Nacional, em Brasília, durante o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, elaborada por lideranças do Movimento de Pessoas Trans.

A data tem como objetivo promover reflexões sobre a cidadania das pessoas travestis, transexuais (homens e mulheres trans) e não-binárias (que não se reconhecem nem como homens nem como mulheres).

Abreviação da palavra “transgêneros”, o termo trans se refere às pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer.

Ações da Prefeitura para pessoas trans

- Ações da Campanha Fortaleza das Diversidades nas Escolas Públicas Municipais: 90 escolas, seis Regionais e 2.7000 alunos envolvidos.

- Campanha do Nome Social em todas as Unidades Básicas de Saúde da Rede de Atenção Primaria à Saúde.

- O Centro de Referência LGBT Janaína Dutra (CRLGBTJD) é um serviço municipal de proteção e defesa da população LGBTQ+ em situação de violência e outras violações/omissões de direitos em razão da sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

- Lançamento do Guia para Retificação do Registro Civil de Travestis e Transexuais de Fortaleza

Servidores trans da Prefeitura de Fortaleza contam suas histórias e falam sobre visibilidade

Dia da Visibilidade Trans é celebrado neste 29 de janeiro

mulher sentada em mesa de trabalho, usando máscara em frente a computador e posando para a foto
Viviane Venâncio é educadora social na Coordenadoria da Diversidade Sexual da Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social há três anos (Foto: Rodrigo Carvalho)

Em 2021, os espaços já conquistados pelas pessoas trans são resultado de diversos movimentos de valorização. Cada uma delas possui suas próprias experiências. No entanto, esta parcela da população ainda luta por direitos como reconhecimento da identidade, liberdade de ir e vir, colocação no mercado de trabalho, entre outras questões.

No Dia da Visibilidade Trans, celebrado neste 29 de janeiro, servidores e ex-servidores transexuais da Prefeitura de Fortaleza apresentam um pouco sobre suas trajetórias na instituição, ressaltam a importância da luta por mais inclusão e destacam os desafios que ainda enfrentam no dia a dia.

Rapaz em pé posando para a foto
Davi Medeiros conta que, durante sua transição, solicitou aos colegas o tratamento pelo novo nome e desde o início foi bem recebido

Davi Medeiros, que atuou como coordenador de Patrimônio Histórico Cultural entre 2018 e 2021, na Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor), começou a passar pelo processo de transição há dois anos, quando já ocupava o cargo. Ele conta que, no período, solicitou aos colegas o tratamento pelo novo nome e com pronomes masculinos, e que desde o início foi bem recebido.

“Na minha situação, estava confortável e não perdi nenhum tipo de credibilidade por causa disso. Mesmo em meio a cargos e faixas etárias diferentes, as pessoas não mudaram o jeito de agir comigo e, por isso, pude me afirmar melhor enquanto Davi, ganhei mais segurança e fiquei mais confortável de me relacionar com os outros”, conta.

Davi acredita que os avanços nas questões de gênero permitiram essa maior liberdade, principalmente por saber que antes de se reconhecer como homem trans, a comunicação costumava ser mais difícil. “Os acontecimentos na Prefeitura contribuíram para que eu pudesse tomar uma decisão. Na Secultfor também lidava com pessoas da comunidade LGBTQ+ em geral, o ambiente favorecia”, descreve.

Apesar dos avanços, as dificuldades existem. Na infância, a falta de um senso de pertencimento a um grupo de crianças; na juventude, a demora para concluir a graduação por não se encaixar em padrões estéticos exigidos no mercado; são alguns dos exemplos de situações que Davi relata.

“É muito sensível essa percepção do quanto a população precisa saber o que é ser trans. O quanto somos excluídos nas religiões, nas escolas, tudo é complexo. Tive dificuldades de relacionamento e diversos outros receios, e mesmo chegando a um cargo como eu cheguei, entendo a problemática. Neste dia, é importante destacar a nossa invisibilidade”, enfatiza.

Mulher de óculos e máscara posando para a foto
Jupyra Carvalho, produtora cultural do CCBel

Mercado de trabalho

A travesti Viviane Venâncio é educadora social na Coordenadoria da Diversidade Sexual da Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) há três anos. Antes disso, já atuava como ativista no movimento LGBTQ+ e afirma que, por ser uma pessoa trans, nasceu vivenciando o preconceito.

Hoje, aos 45 anos, considera seu trabalho satisfatório por continuar lutando diariamente por direitos, e se sente realizada no cargo. “Apesar de termos uma vida bem difícil, acho que é um lugar onde, lá atrás, eu jamais achei que chegaria. Houve avanços, mas não é suficiente, e por isso continuo aqui”, reforça.

Para Viviane, ainda existem muitas barreiras, principalmente no que concerne o acesso ao mercado de trabalho.
“Falar da vida da gente também engloba outras pessoas. Para nenhum LGBTQ+ é fácil. Mas o trans é uma pessoa normal que sabe fazer tudo e infelizmente, para alguns, ainda parece coisa de outro mundo”, explica, ressaltando a importância de continuar na luta por mais espaços.

Já para Jupyra Carvalho, produtora cultural no Centro Cultural Belchior (CCBel), trabalhar no espaço é uma oportunidade de mostrar a potência das pessoas trans, de estar em um lugar de decisão, ser consultada como líder e colocar sua visão de mundo na escolha da programação cultural.

“Para mim este um lugar é uma conquista, e não um lugar comum. Às vezes, caímos na armadilha de que não existem pessoas trans produzindo cultura na cidade, e existe uma barreira pois não existe uma quantidade mínima de pessoas trans trabalhando nesses locais”, comenta.

Além disso, ela considera a questão da visibilidade trans uma ambiguidade, pois também pode ser vinculada à discriminação. “Não podemos ver a data como definidora da nossa existência. O que ela traz é esse caminho que está sendo construído politicamente, para que não sejamos meramente decorativos, mas sim reconhecidos e possamos existir sempre, cotidianamente e profissionalmente”, completa Jupyra.

Sobre o Dia da Visibilidade Trans

O Dia da Visibilidade Trans foi criado em 2004, quando um grupo de 27 pessoas trans foi ao Congresso Nacional, em Brasília, durante o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, elaborada por lideranças do Movimento de Pessoas Trans.

A data tem como objetivo promover reflexões sobre a cidadania das pessoas travestis, transexuais (homens e mulheres trans) e não-binárias (que não se reconhecem nem como homens nem como mulheres).

Abreviação da palavra “transgêneros”, o termo trans se refere às pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer.

Ações da Prefeitura para pessoas trans

- Ações da Campanha Fortaleza das Diversidades nas Escolas Públicas Municipais: 90 escolas, seis Regionais e 2.7000 alunos envolvidos.

- Campanha do Nome Social em todas as Unidades Básicas de Saúde da Rede de Atenção Primaria à Saúde.

- O Centro de Referência LGBT Janaína Dutra (CRLGBTJD) é um serviço municipal de proteção e defesa da população LGBTQ+ em situação de violência e outras violações/omissões de direitos em razão da sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

- Lançamento do Guia para Retificação do Registro Civil de Travestis e Transexuais de Fortaleza