A doação de órgãos é um ato de solidariedade e empatia. Além de salvar vidas, traz conforto às famílias, que encontram alívio ao saber que a perda de um ente querido ajudou outras pessoas a continuar vivendo. Mais do que prolongar a vida, o gesto transforma a despedida em esperança, permitindo que outros possam recomeçar.
Com esse propósito, o Instituto Dr. José Frota (IJF), hospital da Prefeitura de Fortaleza, promoveu, nesta terça-feira (23/9), o 13º Encontro de Famílias Doadoras de Órgãos. A iniciativa integra as ações do Setembro Verde, mês de conscientização e incentivo à doação de órgãos e tecidos.
O evento reuniu 40 famílias na Casa Barão de Camocim, entre as que autorizaram a doação e pessoas transplantadas. Também participaram profissionais e colaboradores do IJF, que fortalecem a rede de solidariedade em torno desse ato que salva vidas todos os dias.
Esperança renovada

O IJF é referência na assistência a vítimas de traumas de alta complexidade e se destaca por sua contribuição ao Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Diógenes Lima é uma das pessoas que passaram pelo processo de captação do IJF e, graças ao transplante de coração, conquistou, em suas palavras, uma nova vida.
“Em 2007, eu era obeso, por minha responsabilidade, e acabei sofrendo um infarto. Fui socorrido no IJF, onde fui estabilizado, e depois encaminhado para o Hospital de Messejana. Quinze dias depois, tive um AVC e precisei voltar ao IJF. Na época, ainda era possível receber o transplante ali, então iniciei o tratamento”, relembrou.
“Consegui me recuperar do AVC e segui em acompanhamento de 2007 até 2016. No meio de julho de 2016, meu quadro piorou e precisei me internar. Fiquei dependente de medicação, aguardando por um coração. O primeiro órgão disponível não foi doado pela família; o segundo não pôde ser utilizado. No terceiro, no dia 2 de agosto, o coração foi oferecido a outro paciente, mas não deu certo. Então, no dia 24 de agosto, chegou o meu coração. Eu disse: ‘Pode dar, porque estou preparado. Vamos em frente’”, contou.
Quem também precisou de transplante foi o brasiliense Altair Almeida. Ele relatou que precisou se mudar para Fortaleza por conta da referência do IJF e do Hospital de Messejana em captação de órgãos e transplantes e, finalmente, em março deste ano, conseguiu um novo pulmão.
“Fui diagnosticado com fibrose pulmonar idiopática em 2018, quando ainda morava em Brasília. É uma doença progressiva e, até 2023, consegui conviver com ela. O transplante era uma possibilidade distante. Mas, em 2023, meu quadro se agravou muito. Já não conseguia mais respirar e passei a depender de oxigênio 24 horas por dia”, comentou.
“Até que, em março de 2025, graças a Deus e a uma família que disse ‘sim’ em meio à dor, chegou o meu pulmão. O órgão estava em boas condições e a cirurgia pôde ser realizada. Desde então, tenho vivido uma nova vida. A importância da doação de órgãos é indiscutível. Eu, como transplantado, sei o quanto significa. Cada ‘sim’ salva vidas. Por isso, hoje também me envolvo nessa causa, tentando conscientizar outras famílias. Entendemos a dor da perda, ninguém julga. Mas é preciso lembrar: naquele instante de despedida, alguém pode estar recebendo uma nova chance de viver”, reforçou.
Já Elisangela Rodrigues era tia-mãe de Valdenia Maria, que faleceu em 2024, tendo cuidado dela desde o nascimento. Para Elisangela, a doação foi a melhor escolha que a família poderia ter feito após a tristeza da perda.
“Na hora, acredito que foi a melhor decisão da família. Quando foi comunicado, meu coração disse sim, mas a decisão ficou a cargo da mãe dela e da irmã e, graças a Deus, elas também disseram sim. Hoje é gratificante saber que tem um pedacinho dela fazendo pessoas felizes. Tenho certeza de que a decisão dela também seria essa, pois era uma pessoa que só fazia o bem.”
Referência nacional

Atualmente, o IJF é responsável por 38% das doações de órgãos disponibilizados para transplantes no Ceará. De janeiro a agosto de 2025, já foram realizadas 108 captações de órgãos e tecidos no hospital. Em 2024, foram 197 procedimentos no ano todo. No mesmo ano, a taxa de aceite familiar foi de 84%, enquanto a média nacional é de 54%.
João Gilberto, superintendente do IJF, reforçou os bons resultados do hospital e afirmou que eventos como o Encontro de Famílias Doadoras auxiliam a aumentar o número de transplantes.
“Eventos como este ajudam a aumentar nossa taxa de efetividade na doação. Hoje, o IJF tem uma taxa de aceitação em torno de 84%, enquanto a média nacional é de cerca de 54%. Isso mostra que nossa equipe está preparada para acolher as famílias, esclarecer dúvidas e oferecer segurança nesse processo”, afirmou.
Aline Alves, coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos do IJF, comentou sobre o processo de doação e o trabalho de acolhimento realizado pela instituição para famílias de potenciais doadores após o falecimento.
“O processo começa com a identificação de possíveis doadores nas unidades de terapia intensiva ou nas emergências. Quando a equipe assistencial identifica um paciente neurocrítico e é realizado o diagnóstico de morte encefálica, a comissão de doação passa a acompanhar a família.”
“Nesse momento, nosso trabalho vai além da parte técnica: oferecemos apoio emocional com acolhimento, respeito e empatia. Procuramos esclarecer todas as dúvidas sobre o processo. Após a confirmação da morte encefálica, apresentamos à família a oportunidade da doação. Se houver consentimento, é preenchido o termo de autorização, que é encaminhado à Central de Transplantes. A central, então, seleciona os receptores compatíveis”, reforçou.
A forma mais importante de se tornar doador de órgãos é manifestar o desejo em vida e comunicar à família. Embora seja possível registrar a intenção em documentos pessoais, como carteira de identidade ou CNH, a decisão cabe aos familiares no momento da morte encefálica. Por isso, conversar com eles é fundamental.
Após a confirmação de morte encefálica, órgãos como coração, pulmão, fígado, rins e pâncreas, além de tecidos como córneas, ossos e pele, podem ser doados. A equipe médica realiza exames rigorosos e, em seguida, conversa com a família para obter autorização.
