Unidades escolares cada vez mais inclusivas e dedicadas a promover uma educação com equidade. É este o desejo que move a Educação de Fortaleza no trabalho de implementar políticas que visam potencializar o desenvolvimento dos estudantes, sobretudo, daqueles que têm necessidades específicas. Dos mais de 15 mil alunos matriculados na Educação Inclusiva atualmente, 11 mil possuem o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), ou seja, mais de 70% desse público.
No mês de conscientização sobre o autismo, conhecido como Abril Azul, atores da comunidade escolar compartilham vivências sobre o início de um novo projeto criado para fortalecer e qualificar as práticas inclusivas na Rede Municipal de Ensino. Realizado em parceria com o Instituto Primeira Infância (Iprede), a iniciativa recebe o nome de Projeto Vincular: Centro de Referência no Atendimento Multiprofissional de Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outros Transtornos do Neurodesenvolvimento.
O Projeto Vincular contempla três eixos de atuação: atendimento multiprofissional a dois mil estudantes com TEA e outros transtornos do neurodesenvolvimento; formação de mais de 11 mil profissionais em educação inclusiva e assessoria técnica para a implantação de painéis sensoriais em todas as unidades municipais da Rede Municipal.
Arte, música, gastronomia, pintura, dança, teatro, psicomotricidade… São diversos espaços de vivências inclusivas que os alunos participam durante os atendimentos multiprofissionais do Vincular. O público que está sendo atendido foi escolhido a partir de critérios, tais como ser aluno com autismo da primeira infância, não receber nenhum outro tipo de atendimento multiprofissional e fazer parte de família beneficiada com Bolsa Família.
A dona de casa Lucivalda Santos é mãe de dois meninos autistas, estudantes da Rede Municipal de Ensino: Henrique Gabriel Santos, de 6 anos, e Pedro Henrique, 12 anos. O filho mais novo, que cursa o 1º ano na Escola Municipal Maria Alice, no bairro Papicu, iniciou o atendimento multiprofissional no Vincular e, segundo Valda, tem sido uma oportunidade fundamental para o desenvolvimento da criança.
“Fiquei muito feliz por saber que ia receber esse atendimento para o Henrique Gabriel. Meu outro filho tem plano de saúde e recebe atendimento por lá. Mas não tenho condições de pagar atendimento complementar ao mais novo. É com muito esforço que a família se reúne para custear o plano para o mais velho”, explica a mãe, que acompanha Henrique pessoalmente nos atendimentos no Vincular.
“Eu não tive muitas oportunidades de estudo, então, quero que meus filhos tenham uma educação diferente. Acredito que, por meio desse atendimento tão rico, ele vai poder sonhar e conhecer mais sobre o mundo”, deseja.
Em atendimento há mais de um mês, Sibelly Gomes, mãe do João Miguel, da Escola Municipal Manoel Caetano, localizada no Genibaú, comemora o início dos atendimentos e está otimista pela evolução do aluno. “Se ele estivesse em casa nesta tarde, estaria assistindo televisão. Queria algo que preenchesse o tempo ocioso dele. Que bom que apareceu este projeto gratuito. Mesmo sendo um pouco longe de casa, faço questão de trazê-lo. Ele gosta muito de música e aqui tem se desenvolvido bastante”, observa.
Atendimento multiprofissional: vivências inclusivas
A coordenadora da Educação Inclusiva da Rede Municipal, Mônica Costa, explica que as crianças são atendidas semanalmente na sede do Iprede e participam de vivências que favorecem a aprendizagem e a inclusão escolar. “Os atendimentos propõem experiências sensoriais, estéticas, criativas e socioemocionais para as crianças. O acesso ao atendimento ainda na infância favorece o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais, motoras e cognitivas. A ideia do projeto é começar atendendo dois mil alunos e ampliar ainda mais esse serviço em breve”, prevê Mônica.
Além do atendimento semanal às crianças com autismo, cuja duração é de duas horas, o Projeto Vincular oferece suporte às mães dos alunos. Com cursos nos setores de costura, culinária e projetos de assistência social, como o acolhimento psicológico, o projeto busca interferir positivamente na vida das famílias como um todo.
Educação e inclusão em Fortaleza
Um conjunto de ações faz parte da política da Educação Inclusiva da Rede Municipal. Além da garantia da matrícula dos estudantes com autismo e outras deficiências nas salas comuns do ensino regular, a Rede assegura também o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Este serviço complementar tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades específicas.
Para assegurar as condições para o acesso e participação destes estudantes nas diversas atividades escolares, a Rede Municipal dispõe de mais de 700 profissionais de apoio e mais de 1 mil assistentes de inclusão. Segundo dados do Censo Escolar de 2023, Fortaleza é a 3ª capital do Brasil e a 1ª do Norte e Nordeste em matrículas na Educação Inclusiva.
A professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) Fernanda Cavalieri atua há oito anos na Escola Municipal Maria Alice com este serviço complementar. Fernanda também é mãe de filhos gêmeos autistas e conhece na pele as dificuldades enfrentadas pelas famílias. Fundadora da Associação Fortaleza Azul, a organização sem fins lucrativos reúne diversas mães de crianças com autismo.
“Nossa escola possui um ambiente inclusivo e de acolhimento. Digo que isso é uma conquista dos últimos anos de trabalho. Aqui na escola, é natural e comum ser diferente. Os alunos já sabem que alguns colegas aprendem de forma diferente. O atendimento do AEE é essencial no trabalho com o aluno com deficiência e envolve toda comunidade escolar”, comemora.