O Bicicletar, sistema público de bicicletas compartilhadas de Fortaleza, celebra no próximo sábado (14/12) uma década de funcionamento, consolidando-se como referência nacional em mobilidade ativa e sustentável. A data marca também a maior fase de expansão e modernização do programa, que esse ano passou a operar em todas as 12 Regionais da Cidade com renovação dos equipamentos e inclusão de bikes elétricas à frota. A medida permitiu que 52% da população viva a menos de 500 metros de uma estação do sistema.
Com mais de 2,4 milhões de habitantes, a capital cearense tem se destacado ao democratizar o acesso à política pública de deslocamento sustentável. Fortaleza se evidencia na comparação com outras cidades brasileiras que possuem iniciativas similares. São Paulo e Rio de Janeiro possuem apenas 18,1% e 6,5% da população, respectivamente, próximas de uma estação.
Marcelo da Silva é entregador e começou a utilizar o Bicicletar nesta semana graças à Estação 266 - Gonzaguinha de Messejana, entregue este ano, localizada a apenas duas quadras da sua casa. Com a sua bicicleta própria que utiliza para trabalhar em reparo, o sistema tornou-se a solução ideal para ele. “É muito fácil usar o Bicicletar. Daqui eu posso fazer entregas, visitar minha mãe no (bairro) Tancredo Neves. Tudo que eu puder fazer de bicicleta, eu faço”, compartilha.
Marcelo também reflete outra peculiaridade do sistema público de bicicletas compartilhadas de Fortaleza. Enquanto o acesso às bikes compartilhadas é mais comum em áreas nobres nas cidades do sudeste brasileiro, Fortaleza expande a iniciativa para as periferias.
Expansão liga a periferia às áreas mais desenvolvidas
A ampliação do Bicicletar proporciona mais lazer, estimula a mobilidade ativa e reforça o cunho social e inclusivo do sistema público de compartilhamento de bikes. Os critérios para a escolha da localização das novas estações transcendem a infraestrutura cicloviária – atualmente superior a 495 km de extensão - e incluem a implantação em bairros com menor acesso a oportunidades de educação e de emprego, bem como considera a densidade demográfica.
“Com novas estações espalhadas por todas as Regionais, é possível conectarmos as áreas periféricas da Cidade, onde reside a maior parte da população de baixa renda, às áreas mais centrais, onde se concentram os principais postos de trabalho e instituições de ensino. Além do incentivo à mobilidade ativa, o Bicicletar contribui para melhorar o acesso das populações de baixa renda às oportunidades e ainda facilitando integração do modal ciclístico com o transporte público, que já ocorre desde o início do programa”, destaca Isabela Castro, coordenadora de Mobilidade da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SCSP).
Consolidação
O Bicicletar tem passado por um processo de transformação gradativo desde o início da operação, em dezembro de 2014. O sistema inicialmente gerido totalmente sob patrocínio da iniciativa privada nos cinco primeiros anos de execução, passou a ser custeado em maior parte pelo poder público desde 2019, garantindo a sua expansão com recursos provenientes da venda dos cartões da Zona Azul, o sistema de estacionamento rotativo.
Para a expansão, uma equipe intersetorial foi destinada para gerenciar o programa no ano passado. As melhorias também incluem a renovação das estações e bicicletas existentes e a incorporação ao sistema de 100 bicicletas elétricas, as chamadas e-bikes neste ano.
Em outubro, o Bicicletar alcançou uma média recorde de 3.967 viagens diárias, totalizando mais de 123 mil viagens no mês. Já o dia 22 de outubro foi responsável pelo pico de viagens desde o início da operação, com 4.472 utilizações. Para atender a demanda, a frota atual é de 1.593 bicicletas, a maior já disponível desde a criação do programa.
Ao todo, a iniciativa viabilizou mais de 7,2 milhões de viagens, estimando-se que mais de 286 mil usuários utilizaram o sistema e impedindo a emissão de mais de 2.950 toneladas de gás carbônico na atmosfera.
“A bicicleta, no sistema público de compartilhamento de Fortaleza, é uma forma de poder complementar os deslocamentos diários ou, até mesmo, ser um meio de transporte acessível e gratuito para que essas pessoas possam se locomover no cotidiano”, reforça Antônio Ferreira Silva, superintendente da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), órgão responsável pela operação do sistema.
Pedala Mais
O maior acesso da população às bikes compartilhadas é possível graças a uma abrangente política pública de incentivo à mobilidade, fortalecida pela Prefeitura em 2023 com a criação do programa Pedala Mais, que engloba uma série de projetos de inovação, infraestrutura e sustentabilidade.
A meta é tornar Fortaleza a cidade mais ciclável da América Latina, dobrando o número de ciclistas de 5% para 10% em 10 anos. A iniciativa nasceu após a cidade ser a primeira colocada no programa Bloomberg Initiative for Cycling Infrastructure (BICI), dentre 275 concorrentes de todo o mundo.
Com os investimentos do Pedala Mais, o Bicicletar está aumentando o número de estações e a disponibilização de bikes. Com 58 novas implantações e outras 114 renovações este ano, o sistema possui atualmente 252 estações e passou a abranger pela primeira vez todas as 12 Regionais da cidade em setembro.
Como utilizar o sistema
O Bicicletar oferece passe gratuito para usuários do Bilhete Único, permitindo viagens de até 60 minutos, de segunda a sábado, e 90 minutos aos domingos e feriados, com intervalo mínimo de 15 minutos entre as viagens. Fora do intervalo, é necessário adquirir os passes disponíveis.
Os usuários podem se cadastrar no aplicativo do Bicicletar, disponível para Android e iOS, e escolher ou reservar sua bicicleta. Alternativamente, é possível retirar as bikes utilizando o Bilhete Único diretamente nas estações, aproximando o cartão do leitor para liberar a bicicleta.