Quando o Microparque Aconchego estava ficando pronto, Ingrid, de cinco anos, foi com os colegas de escola dar sua contribuição, desenhando em parte de um grande mural pintado com bichos e plantas cheios de cor. A participação da comunidade na criação e gestão é uma das qualidades dos microparques urbanos, projeto reconhecido internacionalmente, que transforma áreas degradadas da cidade em pequenos parques urbanos, unindo meio ambiente, primeira infância e educação. Inaugurado em setembro deste ano, o Microparque Aconchego, no bairro Conjunto Ceará I, já foi abraçado pela comunidade e se tornou área de convivência e lazer para as famílias da região.

O novo espaço está localizado em uma área de 1.440 m², próximo à escola e ao posto de saúde do bairro. Além disso, o microparque conta com academia, brinquedos naturalizados, campo de areia, piso permeável, e projeto paisagístico, que o deixou semelhante a uma pequena floresta.

Diariamente, o Aconchego é parada certa para Ingrid após a saída da escola. A mãe dela, Taline Bezerra, leva a filha para brincar e aguarda junto com o filho mais novo, Cauã, de sete meses. Segundo Taline, a rotina é importante para o bem-estar da criança. "Faz diferença, e grande. Depois daqui ela chega em casa, toma banho, merenda e pronto, fica sossegada", conta, acrescentando que a filha ficou muito feliz de participar da ornamentação do local, com os desenhos no muro.

Morando pertinho do Microparque, o psicólogo Otaviano Damasceno e a filha Anne Gabriela, de oito anos, acompanharam as obras no local e viram ele ser construído do zero. "A gente criou muita expectativa e realmente surpreendeu. Está sendo muito bom, é muito aconchegante, aqui, muito propício para as crianças se divertirem e marcarem seus encontros", avalia Otaviano. Quando ele relembra o estado anterior do espaço, a admiração cresce. "Era um terreno que estava abandonado, não tinha nada, só um campo usado apenas por adultos e ao redor dele muito entulho, mato, vidro, sujeira, e agora é um ambiente totalmente infantil, para toda a família", afirma.

Observando as brincadeiras do filho Leonardo, de três anos, no Microparque, a estudante Naiane Rodrigues percebe o potencial do espaço de contribuir para o desenvolvimento dele. "Acho que é uma experiência nova, ficar brincando tocando nas árvores, então é uma coisa que já aproxima mais ele da natureza. Foi uma ideia bem legal. Os brinquedos de troncos ajudam a criança a ver que tem outras coisas além da água e da terra, e também existem vários tipos de planta aqui. As crianças aproveitam, ficam curiosas, descobrem que cada coisa tem uma textura. A criança fica se sentindo livre", relata.

O processo de criação do equipamento foi pensado de forma conjunta entre a comunidade local e a Secretaria do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma). De início, foi feito um mapeamento das áreas, com visitas aos equipamentos do território. Após reuniões e oficinas, o projeto foi aprovado e validado pela população, também responsável pela escolha do nome do local.

Projeto microparques urbanos

Ao todo, serão construídos 30 microparques urbanos até o final de 2024, envolvendo investimento de cerca de R$ 12 milhões. Nesta primeira etapa, serão entregues sete microparques, contemplando os bairros Conjunto Ceará, Conjunto Esperança, Aracapé, Mondubim e Siqueira. Outros 23 equipamentos serão construídos nos bairros Jacarecanga, Carlito Pamplona, Barra do Ceará, Vila Velha, Conjunto Ceará I, Parque Dois Irmãos, Parque Manibura, Jangurussu, São Bento, Messejana, Lagoa Redonda, Vicente Pinzón, Cais do Porto, Sapiranga, Cidade dos Funcionários, Parangaba, José Walter e Jardim das Oliveiras.

Atualmente, Fortaleza conta com três microparques, no Parque Manibura, na Barra do Ceará e no Conjunto Ceará I, entregues entre 2020 e 2023.

Reconhecimento internacional

Em 2022, o projeto microparques urbanos venceu o prêmio internacional AIPH World Green City Awards, em evento realizado na Coréia do Sul. Intitulado Transforming degraded land into Urban Micro Parks (Transformando Áreas Degradadas em Microparques Urbanos, em tradução livre), o projeto ficou em primeiro lugar na categoria Living Green for Health and Wellbeing, em meio a iniciativas de todo o mundo.