Com o objetivo de compreender os fatores que levam ao envolvimento de motociclistas entregadores por aplicativos em sinistros de trânsito, uma pesquisa desenvolvida pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) em conjunto com a Universidade Federal do Ceará (UFC) mostrou que estes condutores podem percorrer até 120 km por dia na Capital. O volume de entregas e a carga horária de trabalho, que se estende por até 11 horas diariamente, pode ter relação com as infrações mais comuns cometidas por eles nas vias, como avanço de sinal de vermelho e trafegar acima da velocidade permitida.
O estudo revelou que 39% dos entregadores percorrem de 70 a 120 quilômetros diariamente. "Este dado é importante para compreender a estafa e impaciência que muitos apresentam diariamente no trânsito da Cidade, estando assim mais expostos e suscetíveis a se envolver em sinistros de trânsito", destaca Juliana Coelho, superintendente da AMC e autora do estudo.
A pesquisa analisou, de 24 a 28 de maio deste ano, uma amostra de 78 motociclistas em quatro locais com grande presença de entregadores. Foram motociclistas do sexo masculino, 45% deles na faixa etária de 25 a 35 anos, 38% tinham de 36 a 50 anos e 18% abaixo de 35. Segundo Juliana Coelho, essas informações corroboram para os resultados das vítimas fatais de acidentes de trânsito de Fortaleza do ano de 2020, em que 88% foram do sexo masculino e 93% tinham de 18 a 59 anos.
Ações
Em 2022, a AMC vai implementar um curso de pilotagem segura para motociclistas entregadores por aplicativo. A formação deve beneficiar pelo menos 2 mil condutores e será semelhante a que começou a ser realizada este ano para motociclistas em geral. A meta é aprimorar técnicas de pilotagem e desenvolver habilidades na condução segura da motocicleta para enfrentar qualquer situação no trânsito. Legislação, mecânica aplicada e noções de direção defensiva serão alguns dos módulos apresentados com o intuito de conscientizá-los sobre as normas de segurança viária e adoção de um comportamento seguro no trânsito.
Nos últimos meses, a AMC tem reforçado as ações conjuntas de fiscalização e educação, especialmente entre os motociclistas. Ao longo de 2021, agentes de trânsito distribuem antenas corta-pipa durante as blitz. O objetivo da ação é se aproximar destes condutores e orientá-los quanto ao uso de equipamentos de segurança, como também o capacete, e atitudes seguras que podem evitar acidentes.
Outras operações são desenvolvidas em momentos pontuais do ano integrando fiscalização e educação dos condutores. Neste mês de dezembro, a Operação Juntos pela Vida foca em bairros da Cidade que mais registraram sinistros no ano. Por turno, cerca de 120 agentes de trânsito, educadores, operadores do Via Livre e engenheiros da Autarquia estão em atuação com orientações sobre as normas de circulação viária e distribuem material educativo.
Estudo aponta principais infrações
Quando questionados sobre o avanço do sinal vermelho, 60% dos entrevistados relataram cometer a infração e 35% afirmaram nunca avançar o sinal vermelho. De acordo com dados dos equipamentos de fiscalização eletrônica do Município, 12% de todas as infrações cometidas por motociclistas são por avanço do sinal vermelho. Sobre o uso do celular enquanto pilota a moto, 85% dos entrevistados afirmam nunca falar ao celular dirigindo e o restante, 15%, confirma que às vezes utilizam dispositivos móveis, fato comprovado pelas autuações de videomonitoramento pelo órgão de trânsito de Fortaleza, onde há poucos registros de motociclistas cometendo essa infração.
Sobre o ato de beber estando sob efeito de bebida alcoólica, 95% dos entrevistados afirmaram nunca dirigir após consumo de álcool e o restante constatou que às vezes dirige bêbado. A avaliação, conforme Juliana Coelho, é de que a ampliação dos comandos de blitz da Lei Seca nos últimos anos tem inibido esse fator de risco. Com relação ao excesso de velocidade, considerado o fator de risco mais preocupante, 77% dos entrevistados afirmaram que, frequentemente ou às vezes, ultrapassam o limite e apenas 23% dizem nunca exceder.
"Os usuários que optam pelas motocicletas são atraídos pela facilidade e agilidade de locomoção que o veículo possui e esta característica, unida às pressões por cumprimentos de horários nas entregas de alimentos, medicamentos e documentos, contribui para que os condutores de motocicletas trafeguem em altas velocidades", explica. De acordo com as infrações de trânsito cometidas por motociclistas em 2020, cerca de 46% delas são relativas ao excesso de velocidade, fator que pode aumentar a gravidade dos sinistros.
Dos entrevistados, 53% já se envolveram em sinistros de trânsito; destes, 77% em acidentes do tipo colisão e os 21% restantes caíram ou escorregaram da motocicleta. O respeito às normas de circulação viária também foi alvo do levantamento. 63,5% afirmaram que frequentemente respeitam as leis de trânsito, embora 69% já receberam algum tipo de autuação.