Reinserir usuários químicos na sociedade por meio da arte e da cultura é o principal objetivo do Projeto Redesenhando Histórias, desenvolvido desde 2018 pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Coordenadoria de Políticas sobre Drogas (CPDrogas). A iniciativa possibilita que os participantes possam usufruir de espaços até então inacessíveis. As obras são expostas em equipamentos públicos da Capital. A mais recente foi em julho, quando alguns dos participantes tiveram suas obras expostas no Museu da Fotografia. A ação fez parte da Semana Municipal sobre Drogas.
O artista Frederico Molini, 37, foi um dos que participaram da exposição. As primeiras experiências dele com as drogas começaram ainda criança, quando culturalmente tomava pequenas doses de vinho, como uma tradição familiar, descendente de italianos. Com o passar dos anos, e com o agravamento de problemas familiares, sua relação de dependência com novas drogas só aumentou. “Eu comecei fumando cigarro por conta da separação dos meus pais, que não foi amigável. Fiz como um ato de rebeldia”.
A atitude rebelde desencadeou no uso de outras substâncias mais pesadas, situação que foi se agravando com o passar do tempo, até que ele conheceu o crack. “Com 20 anos eu virei diarista, fumava todos os dias”. Depois de um tempo internado buscando sua recuperação, ele notou o agravamento de problemas psiquiátricos e então indicaram o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). “Fiz meu cadastro e conheci profissionais incríveis. O benefício que foi eu ter a minha medicação, dentro da necessidade da minha realidade, fez com que eu voltasse a reconstruir a minha vida”, fala.
Frederico conheceu a fotografia e se apaixonou. O artista já havia feito cursos de pintura e sempre foi um amante de retratos. “A fotografia fez eu me apaixonar pelo ser humano de novo”. À medida em que frequentava o CAPS, Molini fez parte do início do Redesenhando Histórias, e já participou de várias mostras da iniciativa. “A exposição abriu muitas portas”. Hoje, o fotógrafo trabalha profissionalmente com casamentos e gestantes.
Recuperação
Para Erasmo Lenz, coordenador da CPDrogas, o projeto terapêutico singular se destaca visando a ressocialização e a recuperação da autoestima, além de contar com espaços culturais importantes de Fortaleza para as exposições. “As visitas semanais aos espaços de arte e cultura através do projeto despertam nos artistas o sentimento de pertencimento, e o desejo de conhecer mais a cidade e imprimir um olhar singular sobre ela”.
O Redesenhando Histórias, além de proporcionar exposições anuais, realiza diversas visitas semanais tanto ao Museu da Fotografia quanto a outros equipamentos de arte e cultura de Fortaleza. Esses encontros garantem que os usuários em tratamento tenham acesso aos espaços e visam estimular o processo criativo de cada um.
Em 2021, o projeto iniciou uma parceria de visitas com o Museu da Fotografia e, neste ano, foi concedido um espaço para a realização da mostra “A Cidade Em Que Habito”. “A parceria com o Museu da Fotografia vem fortalecer esse trabalho, não apenas com a exposição ao público, mas principalmente com os cursos de aperfeiçoamento presenteados aos participantes do projeto”, conclui Erasmo.