Era uma vez uma agremiação de crianças reunidas em torno do objetivo de crescerem como cidadãs criativas e aptas a intervir na sociedade. Longe de ser fantasiosa, esta história é ambientada na Rede de Ensino de Fortaleza, por meio do projeto Confraria de Leitura. Sediada na Escola Municipal Raimundo Moreira Sena, no bairro Granja Lisboa, a agenda engaja estudantes dos 3º e 4º anos em experiências leitoras e interpretativas.
Com diferentes abordagens relacionadas ao enriquecimento do cotidiano escolar, atividades semanais são programadas para garantir a evolução no rendimento de cerca de 70 alunos, entre 8 e 12 anos de idade, envolvidos no projeto. No cronograma da Confraria de Leitura, explica o professor e idealizador João Teles, livros infantis dividem espaço com a apreciação de recursos como cordéis, jornais, revistas, filmes, músicas e palestras.
“O objetivo é ampliar a capacidade leitora dos estudantes, mas também queremos ajudá-los a compreender o mundo onde vivem. Para isso, além dos materiais, buscamos trazer outras possibilidades, como a visita de escritores, poetas e cordelistas à escola”, relata o professor.
Por trás da iniciativa há 26 anos, João Teles afirma que há, principalmente, o intuito de formar indivíduos conscientes das próprias expressões regionais. “Nosso foco é a cultura nordestina. Trazemos conteúdos sobre Luiz Gonzaga, literatura de cordel, artesanato nordestino, bandas cabaçais”, elenca, afirmando que a identificação cultural é responsável por reforçar a autoestima dos alunos “em um processo de valorização dos talentos que todos têm e podem expressar”.
Protagonismo estudantil
Como repercussão deste movimento de representatividade, há quem já esteja traçando os primeiros capítulos de histórias autorais. É o caso de Geovana Rodrigues, aluna do 3º ano da Escola Municipal Raimundo Moreira Sena e integrante assídua do grupo de leitura.
“Eu estou escrevendo um livro com o título ‘A Princesa sem Príncipe’. Nele, conto a história de uma princesa que não quer se casar. O pai dela faz vários planos para o casamento, mas a princesa luta para ficar sozinha. Sonho que este livro seja lido por outras pessoas”, aspira a estudante que, no encontro da última semana, apresentou aos colegas uma interpretação da revista “A Casa Mágica da Magali”, título escolhido por ela durante a dinâmica proposta na reunião.
No mesmo dia, a biblioteca da unidade escolar virou palco para declamação de poemas escritos pela confraria. O aluno Brian Samuel, também do 3º ano, ergueu a voz para recitar versos denominados “Ler é muito bom”. Segundo ele, a competência discursiva também é resultado do estímulo do projeto: “decorei tudo hoje! O professor falou uma vez só, e foi o necessário para eu aprender”.
Multiplicadores de saberes
As ações de incentivo à leitura são defendidas pela Rede Municipal como substanciais para a construção do conhecimento e da socialização infantil. A diretora Ledjany Amorim comenta que “práticas leitoras capazes de aflorar o senso crítico fazem parte da rotina das instituições da Prefeitura de Fortaleza”. Os estudantes que participam destas programações, observa a gestora, “passam a atuar como multiplicadores, colaborando com outras pessoas que têm dificuldades em relação à leitura”.
Exemplo de propagadora das vivências literárias, Ana Sofia Alencar, aluna do 4º ano, acredita que o gosto pela leitura a auxilia nos sonhos pessoais e na atenção com o coletivo. “Acho legal vir para a biblioteca, porque é importante para a gente aprender, crescer e conseguir um bom trabalho no futuro. Também já pude ajudar outras pessoas da minha sala a aprender a ler”, finaliza a estudante, orgulhosa.
Políticas da Rede de Ensino
A Secretaria Municipal da Educação de Fortaleza (SME) incentiva o fortalecimento de ações leitoras criativas e inovadoras nas unidades escolares por meio de agendas como o Dia “D” da Leitura, Clubes de Leitura, Rodas de Leitura, Contação de Histórias, Leituras Compartilhadas ou Colaborativas, Mostra Literária, dentre outras iniciativas pedagógicas que, além de instigar a curiosidade e a oralidade, favorecem a alfabetização e o letramento dos alunos.
Para subsidiar tais ações, a Rede de Ensino oferta aos estudantes e professores do 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental a Arca Literária, instrumento facilitador da prática leitora. Com foco no desenvolvimento da leitura prazerosa, o material pedagógico complementar auxilia as vivências leitoras e oportuniza o acesso aos estudantes a diferentes tipos de leitura. Mais propostas incluídas no cotidiano escolar são: clubes de aprendizagem, oficinas de leitura, laboratórios de produção textual e oficinas de cultura e diversidade regional.